Cantora egípcia é condenada a dois anos de prisão por vídeo com banana

Em mais um indício do crescente conservadorismo do governo egípcio, uma jovem cantora foi condenada a dois anos de prisão pelo vídeo em que aparece comendo uma banana de maneira sugestiva. Ela havia sido detida no mês passado e, nesta quarta-feira (14), a Justiça decidiu que Shaimaa Ahmed, 21, conhecida como Shyma, agiu com “deboche” no clipe “Tenho Condições”.

“Não imaginava que tudo isso fosse acontecer e que eu fosse ser atacada de maneira tão intensa por todos”, ela escreveu em sua página no Facebook. O diretor do clipe foi condenado à mesma pena. Shyma também terá de pagar uma multa de R$ 1.800. Ainda é possível recorrer à sentença.

A detenção de Shyma, porém, não é exatamente uma surpresa. Houve nos últimos anos diversos casos semelhantes, como o das dançarinas condenadas a seis meses de prisão no ano passado pela mesma acusação de “deboche” — utilizada também para deter dezenas de supostos homossexuais em setembro após o show da banda libanesa Mashrou’ Leila, que tem integrantes gays.

Recentemente, uma outra cantora egípcia foi acusada por ter dito que “beber do Nilo vai me dar esquistossomose”, uma doença transmitida por parasitas — para um setor conservador do país, ela desrespeitou o rio, um dos principais símbolos do Egito. Ela está proibida de se apresentar no país.

Uma situação semelhante envolveu a banda brasileira de metal Sepultura, que teve sua apresentação cancelada em junho de 2016. Os integrantes não foram acusados, mas pessoas envolvidas com a organização do show foram detidas e a imprensa local fez denúncias de “adoração do demônio”. Este Orientalíssimo blog acompanhou o caso à época diretamente do Cairo.

Uma das explicações para o crescente conservadorismo do governo egípcio é que, depois de derrubar um presidente islamita em 2013, as autoridades querem acenar a setores mais tradicionais da população — razão pela qual têm crescido as acusações por blasfêmia, afetando em especial os cristãos. À Folha o ativista Ishak Ibrahim disse em 2016 que “o governo quer mandar uma mensagem de que quer aplicar a lei islâmica com mais esmero do que os próprios islamitas”.