Eleição de Biden é recebida com cautela e humor no Oriente Médio
Enquanto os Estados Unidos contavam os votos de sua eleição, circulava nas redes do Oriente Médio uma série de variações de um mesmo meme. Imagens de homens entediados vinham acompanhadas de uma legenda mais ou menos nesta linha: “árabes esperam para saber quem vai vencer e ser o próximo a invadir o Oriente Médio”.
arabs waiting to see who will win and invade the middle east next pic.twitter.com/oc8UJmr3K2
— linah | لينة (@mohammadlinah) November 6, 2020
Também se espalharam inúmeras imagens com o termo árabe “inshallah”, dito pelo democrata Joe Biden durante um debate com o republicano Donald Trump. Em árabe, “inshallah” significa “se Deus quiser”. É de onde vem o termo em português “oxalá”. Com isso, usuários das redes sociais fizeram a troça de que Biden venceu as eleições de terça-feira (3) porque falou a palavra quase mágica.
The lesson is: always say inshallah pic.twitter.com/9ECYeJ3D4y
— Hassan Hassan (@hxhassan) November 6, 2020
Esses dois memes simbolizam, de certa maneira, a mistura de cautela e humor entre quem acompanhou o pleito americano no Oriente Médio. Cautela porque, afinal, ninguém espera que o presidente eleito Biden vá mudar a região de maneira radical. Ele deve manter a embaixada americana em Jerusalém, por exemplo, e continuar a reconhecer a presença israelense nas colinas do Golã – duas medidas de Trump que causaram revolta. No máximo, a eleição de Biden serviu de incentivo aos movimentos que pedem a saída do premiê israelense Binyamin Netanyahu. O tuíte abaixo diz: “Agora que ele se foi, é a sua vez”.
“Now that he’s gone, its your turn,” from the anti-Netanyahu rally in Jerusalem. pic.twitter.com/dZzn85xueT
— Noga Tarnopolsky (@NTarnopolsky) November 7, 2020
Já o humor com que as pessoas receberam a eleição de Biden vem do fato de que poucos entre as populações na região consideravam Trump um aliado. Árabes e iranianos vivendo nos Estados Unidos e seus descendentes, muito menos. Trump foi o responsável por um veto à entrada de cidadãos de diversos países de maioria muçulmana, por exemplo, afetando quem vinha de lugares como a Síria, o Iêmen e o Irã. Biden prometeu que vai reverter essa medida no seu primeiro dia de governo. Trump insistia nos debates em que tal decisão iria permitir que terroristas entrassem no país “para explodir nossas cidades”.
Além de reverter o veto à entrada de muçulmanos, Biden deve se afastar de Trump em outras políticas em relação ao Oriente Médio. Como este Orientalíssimo blog mostrou antes das eleições, a expectativa é de que o presidente eleito se afaste de regimes autoritários como o da Arábia Saudita e o do Egito. Ele também deve tomar uma posição mais dura em relação ao governo turco — analistas disseram à Al Jazeera, por exemplo, que Trump era o único aliado que restava à Turquia em Washington, a capital americana.
Ainda é cedo, é claro, para saber se o resultado da eleição de Biden será positivo, negativo ou mesmo neutro para o Oriente Médio. O que sabemos é que, no ínterim, as populações da região seguem atentas ao que acontece nos Estados Unidos. A charge no tuíte abaixo resume essa situação, ao mostrar passageiros de um táxi no Irã discutindo quais estados americanos iriam determinar o resultado deste pleito.
In this cartoon, Iranians debate which state will determine the outcome of the election. One even claims the internet was shut off in Ohio.
It just goes to show how much Iranians care and follow the US presidential election.#Election2020 pic.twitter.com/wyEn6L0dNK
— Holly Dagres (@hdagres) November 4, 2020