Em debate, democrata Joe Biden diz ‘oxalá’ e surpreende árabes

Passou quase batido na cacofonia do debate presidencial americano de terça-feira (29), mas o uso de uma expressão árabe pelo candidato democrata Joe Biden atraiu o interesse da população de origem árabe no país — para o bem e para o mal. Apesar de os árabes representarem apenas 1% dos Estados Unidos, eles podem ter algum impacto em estados como Michigan. Em geral, eles são eleitores democratas.

O episódio ocorreu quando Trump prometeu revelar ao público o seu imposto de renda, depois que o New York Times publicou uma reportagem mostrando que o presidente pagou valores irrisórios nos últimos anos. Durante o debate, Trump rebateu a acusação do diário e insistiu que pagou “milhões de dólares”, afirmando que vai prová-lo em breve. “Quando?”, Biden perguntou-lhe. “Inshallah?”.

O termo árabe “inshallah” significa “se Deus quiser”, literalmente (a frase é “in sha’ Allah”, mais precisamente). Entrou para o português como “oxalá”, com o mesmo significado. Mas Biden usou a frase com sentido irônico, querendo dizer: “nunca”, ou “pode esperar sentado”. A nuance não passou desapercebida entre árabes americanos, como mostra uma reportagem do Washington Post — apesar de que a princípio alguns se perguntaram se ele tinha dito “in July” (em julho) ou “enchilada” (o prato mexicano). Essa história logo chegou à imprensa do mundo de fala árabe, como Al Jazeera e The National.

As reações foram divididas. Parte da audiência, ainda segundo o Post, sugeriu que ao menos Biden tentou falar à população árabe dos Estados Unidos. Shadi Hamid, um analista do Brookings Institute, escreveu na rede social Twitter que jamais teria imaginado que um candidato presidencial americano diria a palavra “inshallah” em um debate. Mas outros comentaristas acusaram Biden de preconceito contra os árabes. Afinal, ele usou o termo com um sentido irônico, sugerindo uma promessa que nunca vai ser cumprida — e associando isso diretamente aos árabes.  “Ele não está apto ao cargo”, escreveu Ghanem Nuseibeh, que lidera uma associação de muçulmanos contra o antissemitismo. O tuíte está abaixo, incluindo o trecho do vídeo:

De acordo com o jornal americano, o termo “inshallah” é relativamente conhecido em Washington. Em parte, foi importado por funcionários da diplomacia e jornalistas de retorno do Iraque e do Afeganistão. O próprio Biden já usou a palavra em fevereiro, durante sua campanha.