Há aceno à paz no Oriente Médio, mas questão palestina segue aberta
O cientista político André Lajst recentemente publicou um texto na Folha afirmando que Israel e os países árabes têm se esforçado para trazer a paz ao Oriente Médio. Enquanto isso, escreveu, “radicais presos a uma ideologia fundamentalista seguem na contramão”.
Lajst dá um exemplo de esforços pela paz: a normalização das relações entre Israel e os Emirados Árabes, culminando em um voo inaugural entre Tel Aviv e Abu Dhabi. O exemplo de radicais na contramão, para ele, é a facção palestina Hamas. Apesar de Israel e Hamas terem entrado em acordo para encerrar as hostilidades na fronteira da faixa de Gaza, Lajst escreve, o Hamas deve romper o trato e voltar a atacar civis israelenses. Em resposta, Israel deve bombardear aquela faixa.
Este Orientalíssimo blog, no entanto, não tem tanto otimismo quanto às perspectivas da paz na região. Lajst fala em um momento positivo, com a possível normalização das relações entre Israel e outros países árabes. Esse pode ser um importante passo para amenizar as tensões, sim — mas dificilmente trará uma paz duradoura nesses arredores.
A paz, afinal, depende da resolução do conflito que segue cravado na política médio-oriental: aquele entre israelenses e palestinos. É uma questão que inflama os dois lados há décadas. Questões fundamentais seguem sem desenlace. Entre elas, o retorno de milhões de refugiados palestinos, o fim da ocupação israelense na Cisjordânia, o futuro da cidade de Jerusalém e o desmonte do cerco israelense à faixa de Gaza. São questões que o Hamas utiliza para justificar suas ações terroristas. São também questões que regimes regionais usam para se legitimizar, como a Síria, projetando-se como defensores da causa palestina.
A normalização das relações entre Israel e os Emirados — e quiçá entre Israel e outros países árabes, como o Bahrein, no futuro próximo — não resolve esses pontos de atrito. Em vez disso, mira em outros alvos, incluindo o turismo e o comércio. Alvos, aliás, difíceis de atingir. Vale lembrar que, apesar de toda a euforia quanto ao acordo de paz entre Israel e Egito nos anos 1970, as relações entre os países seguem secas. As populações dos dois países continuam hostis umas às outras.
Como o Council on Foreign Relations lembrou há algumas semanas, quando o acordo Israel-Emirados foi anunciado, Israel tem demonstrado pouco interesse em negociar com os palestinos. Tem, na verdade, fortalecido sua posição na Cisjordânia, apesar da crítica da comunidade internacional. Erode, com isso, a possibilidade de haver um estado palestino em territórios contíguos. Os Estados Unidos, que mediaram o acordo, tampouco dão passos em direção à paz — transferiram sua embaixada para Jerusalém, cortaram auxílio financeiro aos palestinos e patrocinaram uma proposta de paz na região que não contempla as aspirações palestinas. Assim, Israel e Estados Unidos caminham de certa maneira também na contramão.