Editora brasileira estreia com traduções do árabe, turco e persa
Uma nova editora estreia neste mês, no Brasil, com um catálogo voltado a autores do Oriente Médio e do Norte da África. A Editora Tabla, liderada por Laura di Pietro e Ana Cartaxo, publicará traduções diretas do árabe, do turco e do persa para a língua portuguesa.
Quem acompanha este Orientalíssimo blog sabe que faltam livros em português sobre aquela região. Em 2016, por exemplo, escrevi uma coluna na Folha com um apelo por mais traduções. O resultado é que leitores brasileiros têm um contato limitado com as culturas de lugares como Marrocos, Palestina e Irã, entre tantos outros. Eles leem as notícias nos jornais e ouvem sobre os conflitos que assolam esses países — mas não têm acesso à rica poesia e ficção escrita ali, perdendo assim a oportunidade de conhecer justamente o que é humano.
Di Pietro, 56, conta que ela e a sócia Cartaxo, 53, fizeram essa mesma constatação durante suas viagens pela região. “Vimos que tinha muito pouca coisa em português”, diz a este blog. Nenhuma das duas têm origem árabe, turca ou iraniana. Do diagnóstico ao tratamento foi um período de dez anos, durante o qual elas matutaram como é que poderiam montar uma editora voltada a essas culturas — e de forma sustentável, isto é, de maneira com que o projeto seja longevo. “Começamos bem pequenininhos e foi um caminho bastante lento.”
O trajeto envolveu, por exemplo, duas viagens à feira do livro de Sharjah, nos Emirados Árabes, uma em 2011 e a outra em 2019, culminando em um financiamento daquele país para algumas das traduções. Di Pietro e Cartaxo tiveram também de montar uma equipe de tradutores. O time é capitaneado pelos professores da USP Safa Jubran e Michel Sleiman, dois dos principais tradutores do árabe ao português. Eles trouxeram alguns de seus alunos para o projeto, que Di Pietro descreve como uma geração de competência excepcional.
A Editora Tabla deve publicar entre 10 e 12 livros adultos por ano, além de um pequeno catálogo infantil. Há dois títulos previstos para o fim de julho e começo de agosto. O primeiro é “Da Presença da Ausência”, do palestino Mahmud Darwich, com tradução de Marco Calil. Já o segundo é “Poema dos Árabes”, do pré-islâmico Chânfara, com tradução de Michel Sleiman. O catálogo inclui também “Madona Com Casaco de Pele”, do turco Sabahattin Ali, com tradução de Marco Sarayama de Pinto; “E Quem É Meryl Streep”, do libanês Rachid Daif, com tradução de Felipe Benjamin Francisco; e “Correio Noturno”, da libanesa Hoda Barakat, com tradução de Safa Jubran.
A ideia, segundo Di Pietro, é construir um catálogo variado, mesclando clássicos com contemporâneos e autores com autoras. “É um trabalho de nicho”, ela diz, “mas é um trabalho bonito, e feito com vontade.”