Em Jerusalém, palestinos e israelenses convivem no ‘Hotel Corona’
A pandemia do coronavírus resultou, por acidente, em uma espécie de experimento social em Israel — um país que, ao contrário do Brasil, tomou duras medidas de isolamento. O governo de Binyamin Netanyahu utilizou 23 hotéis e albergues para hospedar pessoas com sintomas leves da doença, investindo o equivalente a R$ 127 milhões em 128 mil diárias. Um deles foi apelidado de Hotel Coronavírus.
Em Jerusalém, o Hotel Coronavírus hospedou pessoas que raramente convivem umas com as outras, dada a polarização da sociedade israelense. Palestinos e israelenses interagiram nos corredores, por exemplo. Outros grupos que circulam em mundos paralelos também conviveram ali, entre eles judeus ultraortodoxos e seculares.
Segundo a rádio americana NPR, essa mistura quase utópica de cidadãos usou a quarentena para sentar-se junta à mesa, contar piadas, dançar zumba e fazer ioga. Como alguns dos hóspedes estavam registrando a experiência nas redes sociais, o restante do país acompanhou o dia a dia do hotel como se fosse um programa de TV.
A comediante israelense Noam Shuster escreveu à 972mag um longo relato sobre a sua experiência no hotel. Nas palavras dela:
Palestinos e judeus se reuniam no lobby toda noite para papear e jogar, com a playlist alternando entre música Mizrahi e clássicos árabes. Eu estava enlouquecendo? Como isso podia acontecer? Por que precisamos de uma pandemia para tratarmos um ao outro com tamanha compaixão radical? Por que somente com uma ameaça externa em comum nós somos capazes de reconhecer a liberdade e o bem-estar dos outros?
Shuster também disse, na rede social Instagram, que foi uma das únicas comediantes do mundo a ter uma plateia ao vivo durante esta pandemia. Afinal, todo o mundo já estava infectado pelo vírus.
A comediante diz, em seu relato, que a experiência no Hotel Coronavírus não resolveu os intensos conflitos sociais do país. Por outro lado, ela insiste em que é preciso reconhecer também as experiências positivas — e utilizar o aprendizado desta crise.
Depois de semanas de confinamento, o governo já começou a fechar os hotéis de quarentena. Segundo a Universidade Johns Hopkins, Israel teve 16 mil casos confirmados de Covid-19 e ao menos 272 mortes.