O Oriente Médio não é um ‘lugar complexo’ de ‘conflitos milenares’
Desde a morte do general iraniano Qassim Suleimani na madrugada de sexta-feira (3), voltou a circular pela imprensa e pelas redes sociais a ideia de que o Oriente Médio é um lugar pavorosamente complicado. Outra ideia que tem bastante força é a de que os conflitos naquela região são milenares — e, portanto, são impossíveis de solucionar. Este Orientalíssimo blog, no entanto, discorda dessas duas avaliações, que mais servem para impedir o engajamento crítico com a situação.
Essa suposta complexidade excepcional do Oriente Médio é um dos estereótipos que ajudam a tornar a região ainda mais distante, exótica e inexplicável. Sobra a um punhado de analistas e políticos a tarefa de explicar, afinal, o que está acontecendo por ali. A política iraniana não é mais difícil de entender do que a brasileira ou a americana, no entanto, para quem se esforça em estudá-la e em falar a sua língua.
Outro estereótipo recorrente é o da antiguidade dos confrontos no Oriente Médio. Como quem diz que não adianta tentar resolver os problemas da região, porque eles existem há tanto tempo que já se naturalizaram. Mas não há nada de ancestral em tantas dessas crises. O sistema político sectário do Líbano, por exemplo, não remonta aos primórdios do mundo — e sim ao colonialismo francês do século 20.
Em seu livro “Orientalismo”, o pensador palestino Edward Said criticou justamente essa ideia de que o Oriente Médio é uma região imutável. A tese de que os árabes e o islã estão fadados a nunca mudar serviu, no passado, para justificar missões civilizatórias e a colonização da região.
Para quem está interessado em conhecer melhor o assunto e evitar generalizações, segue abaixo uma lista sugerindo cinco boas obras.
“Orientalismo”, Edward Said
“Contending Visions of the Middle East”, Zachary Lockman
“Uma História dos Povos Árabes”, Albert Hourani
“The Arabs: A History”, Eugene Rogan
“Maomé”, Karen Armstrong