Em Sergipe, universidade cria Centro de Estudos Árabes e Islâmicos

A Universidade Federal de Sergipe inaugurou neste mês o seu Centro de Estudos Árabes e Islâmicos. A iniciativa, inédita na região, tem como um de seus objetivos descentralizar os estudos acadêmicos, que ainda estão concentrados no sudeste do país. No médio prazo, o CEAI deve envolver alunos, pesquisadores e instituições do Nordeste.

O centro é coordenado por Geraldo Adriano Campos, professor do departamento de relações internacionais da universidade. Campos, que trabalhou como curador da Mostra Mundo Árabe de Cinema, leciona ali desde 2018. “Percebi, quando cheguei, que existe uma demanda imensa por estudos árabes e islâmicos”, diz à Folha.

O lançamento do Centro de Estudos Árabes e Islâmicos coincide com o segunda edição das atividades do Beit21, uma plataforma artística que promove relações mais estreitas entre países do sul global. O Beit21 tem ênfase na Palestina e, com isso, convidou o artista Abdul Rahman Katanani para sua primeira residência artística. Nascido no campo de refugiados de Sabra, na periferia de Beirute, Katanani é um dos principais artistas palestinos contemporâneos. O sociólogo palestino Baha Hilo também participou das atividades do novo centro.

Envolvendo alunos e professores de diversos departamentos da Universidade Federal de Sergipe, o CEAI tem quatro linhas de estudo: palestina, geopolítica, história e presença árabe no Brasil. Haverá também esforços de tradução e um curso introdutório de árabe moderno padrão, tendo em vista criar uma tradição de ensino de árabe na região — há hoje poucas opções para alunos interessados em aprender aquela língua em um ambiente universitário no Brasil.

A linha de pesquisa sobre a presença árabe no Brasil deve ser um dos pontos fortes do centro. Populações árabes migraram em massa para o Brasil entre 1870 e 1930. Descendentes de árabe se destacaram em diversos campos. Fernando Haddad e Michel Temer, por exemplo, são filhos de libaneses. O escritor Milton Hatoum tem a mesma ascendência. O governo do Líbano estima que há hoje entre 7 milhões e 10 milhões de libaneses e seus descendentes vivendo no Brasil.