Por Whatsapp, governo egípcio dita texto sobre morte de presidente

A morte de Mohamed Mursi na segunda-feira (17) foi um dos principais acontecimentos políticos recentes no Oriente Médio. Mursi, afinal, tinha sido o primeiro presidente eleito de maneira democrática no Egito, em 2012. Sua derrocada em 2013 marcou um novo período autoritário, com a chegada de Abdel Fattah al-Sisi ao mando.

Apesar da evidente importância da notícia, os jornais egípcios não mencionaram o fato em suas primeiras páginas. A morte de Mursi apareceu nas páginas internas — e ele foi identificado apenas como Mohamed Mursi al-Ayat, sem menção alguma a seu cargo no país.

Mais impressionante ainda é o fato, noticiado pelo site independente Mada Masr, de que os jornais egípcios repetiram um mesmo texto de 42 palavras. A reportagem, segundo o site, foi ditada pelo governo autoritário de Abdel Fattah al-Sisi por meio de mensagens de Whatsapp, algo cada vez mais recorrente. Os jornais também foram instruídos, diz o Mada Masr, a enterrar a notícia nas páginas internas.

Foi o caso dos jornais oficiais al-Akhbar, al-Jumhuriyya e al-Ahram. A imprensa privada seguiu o mesmo script, por exemplo, Yawm7, al-Dustur e al-Shuruk. A exceção, diz o Mada Masr, foi o jornal al-Masri al-Yawm, que publicou um texto sobre a morte de Mursi em sua capa.

A mesma mensagem parece ter sido recebida pelos canais de TV. Uma apresentadora, vista no vídeo abaixo, em árabe, encerra sua reportagem com os dizeres “enviado por um aparelho Samsung”.

O controle da imprensa não é novo no Egito. A censura remonta, na verdade, ao golpe de 1952. Gamal Abdel Nasser, que governou até sua morte em 1970, extinguiu jornais, instituiu um extenso aparato de censura e nomeou burocratas para liderar o que restou da imprensa.