Em meio a protestos, regime do Sudão decide desligar a internet
O Sudão está completamente no escuro. Entre protestos e denúncias de violações dos direitos humanos, o regime militar decidiu apertar o interruptor e derrubou a internet no país. O blecaute, segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, é quase completo — o que significa que o país de 40 milhões de pessoas agora está offline.
O regime, que governa o país em caráter temporário desde a deposição do ditador Omar al-Bashir em abril passado, já vinha sufocando a rede desde 3 de junho. O escurecimento da internet coincide com ataques violentos a manifestantes no país. Mas, na segunda-feira (10), as autoridades derrubaram praticamente todas a comunicação.
A estratégia, segundo ativistas sudaneses, serve para vários fins. Por exemplo, dificulta a comunicação entre grupos de oposição, que já não podem contar com serviços como Whatsapp para se organizar. São obrigados a conversar por telefone ou se reunir pessoalmente, o que aumenta o risco de repressão. Ademais, sem internet, ativistas não conseguem divulgar as violações aos direitos humanos — por exemplo, o uso de força para dispersar manifestações. Um porta-voz das autoridades de transição explicou as medidas recentes, afirmando que a internet “representa uma ameaça à segurança nacional”.
Blecautes na internet não são uma novidade, como escreveu Steven Feldstein no jornal Washington Post. Mas a tática tem se tornado cada vez mais comum entre regimes autocráticos, como maneira de controlar seus cidadãos. As autoridades locais recorrem a essa estratégia, em especial, quando elas são desafiadas nas ruas.
Derrubar a internet, no entanto, é bastante custoso, diz Feldstein. Como todo o mundo fica offline, os negócios são impactados também. Cinco dias de blecaute no Sudão significam, segundo o jornal americano, uma perda de US$ 228 milhões (quase R$ 900 milhões). Ironicamente, os protestos começaram devido às agruras econômicas, incluindo o alto preço do pão. Empobrecer o país de pouco ajuda.
Dito isso, o cálculo que o governo sudanês talvez tenha feito é que pouca gente de fato usa a internet por ali. Apenas 31% usam a rede, diz Feldstein, e só 7% usam as redes sociais. Ademais, a porcentagem que usa essas redes coincide com a população que está nas ruas, protestando. O regime decidiu, pois, que valia a pena apagar a luz.