Por atritos políticos, árabes celebram ramadã em diferentes datas

O calendário do ramadã, o mês sagrado para os muçulmanos, envolve todo os anos uma certa pitada de política. O período de jejum — se você não se lembra do que é o ramadã, releia este guia que escrevi há alguns anos — termina em uma suntuosa celebração conhecida como Eid al-Fitr. Mas a data é variável, pois depende da aparição da lua nova nos céus. Cada país decide quando está na hora de comemorar, uma decisão que frequentemente segue os seus alinhamentos políticos.

Apesar de a política estar sempre presente, ela parece vir em dose extra neste ano, como sugere um texto da agência de notícias Associated Press. A Arábia Saudita celebra o festival já nesta terça-feira (4), ao lado de Kuait, Qatar e Emirados Árabes Unidos. Do outro lado do espectro, Egito, Síria, Jordânia e Palestina anunciaram que vão esperar até a quarta-feira (5), por não terem visto a lua nova em seus territórios. No passado, jordanianos e palestinos seguiram o calendário saudita, algo com que parecem ter rompido agora, causando certo desconforto.

Segundo a agência de notícias, o Eid al-Fitr já tinha sido anunciado na faixa de Gaza, mas foi adiado após as autoridades religiosas em Jerusalém decidirem outra data. A notícia foi recebida com algum protesto no território palestino — afinal, além do significado religioso, o fim do ramadã também significa romper o jejum de um mês.

A situação é ainda mais delicada no Sudão, dividido politicamente desde a derrocada do ditador Omar al-Bashir em abril passado. O regime militar de transição anunciou que o Eid al-Fitr começa na quarta-feira, mas os manifestantes disseram que vão celebrar na terça.

Algo semelhante aconteceu no Iêmen, um país em guerra civil após a onda de protestos de 2011. O governo reconhecido internacionalmente vai comemorar na terça-feira. Os rebeldes xiitas da facção Huthi, no entanto, vão esperar até o dia seguinte. A Associated Press diz que é a primeira vez na história moderna do país em que o Eid é dividido.

Essa situação se repete no restante da região. Sunitas e xiitas — ramos do islã — celebram em datas diferentes no Líbano e no Iraque, por exemplo. Na rede social Twitter, o analista Haizam Amirah-Fernández resumiu o cenário na mensagem abaixo, em espanhol. O fim do ramadã não depende da lua nova, ele escreveu, e sim da política.