Em meio a crises, iranianos encontram algum alívio no humor

Entre as sufocantes sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e as ameaças de guerra, Donald Trump recentemente sugeriu uma solução para a crise entre seu país e o Irã. A repórteres ele disse que espera um telefonema dos iranianos para resolver o impasse.

A ideia de que os iranianos pudessem telefonar para o presidente americano foi recebida com escárnio no Irã. O pesquisador Reza Akbari mencionou, em um texto no site Al-Monitor, a série de mensagens publicadas na rede social Twitter com a etiqueta “Alô, Trump”. Nelas, usuários faziam troça da possibilidade de uma ligação amigável, após décadas de atritos. Em seguida, quando os iranianos souberam que os Estados Unidos tinham disponibilizado um número de telefone na embaixada suíça para facilitar as comunicações com o Irã, a missão diplomática daquele país europeu recebeu centenas de trotes.

Akbari também citou as piadas do animador Soroush Rezaee, que produziu um curta mostrando Trump acordado por uma ligação às 3 da manhã. “São os iranianos! Finalmente telefonaram!”, diz. Após receber uma série de outros telefonemas — por exemplo, vendedores tentando convencê-lo a comprar tônico capilar — Trump se dá conta de que seu número caiu nas mãos de operadores de telemarketing.

Em seu texto no Al-Monitor Akbari explica o humor iraniano:

Os iranianos lidam com uma série de desafios assustadores. Mas, nestes tempos angustiantes, eles também demonstram ter uma predileção pela elaboração de piadas. O humor é, para os iranianos, uma maneira psicológica de processar as coisas: um mecanismo para dar conta de cenários sombrios. O passado do Irã é repleto de realidades bastantes sombrias, e talvez esse seja o segredo da perseverança da população e de sua confiança no humor.

A análise me fez lembrar do pesquisador iraniano-americano Asef Bayat. Em “Life as Politics” (vida como política), Bayat mostra como as populações no Oriente Médio — sujeitas a regimes repressivos — encontram maneiras cotidianas de resistência. Uma dessas estratégias é justamente o humor. Como se, com o simples fato de rirem, os iranianos pudessem por fim desafiar suas condições extremas de vida.