Em filme da Netflix, genro de Abdel Nasser é um espião de Israel
Ashraf Marwan era genro de Gamal Abdel Nasser, o líder do Egito de 1954 até 1970 e herói do nacionalismo árabe. Ele era também um conselheiro do presidente seguinte, Anwar Sadat, e tinha acesso aos altos escalões do governo. Segundo um novo filme da Netflix, porém, ele era simultaneamente uma outra coisa — um espião de Israel.
O filme “Anjo”, que estreia em setembro, reacendeu o debate sobre essa curiosa figura. No trailer, Marwan é descrito como “um dos bens mais valiosos da Inteligência israelense no século 20”. Ele teria, afinal, avisado Israel sobre um ataque-surpresa do Exército egípcio em 1973. “Milhões de inocentes vão morrer em ambos os lados”, diz, no vídeo.
Mas, como registra o jornal americano Washington Post, a história de Marwan não é tão simples assim. Não há provas concretas de que ele fosse um espião de Israel. “A verdade, de acordo com autores, políticos e historiadores israelenses e egípcios, é bastante mais complicada e, no final das contas, pode nunca ser conhecida”, diz o diário. Marwan morreu em 2007 caindo de uma sacada em Londres, no que foi à época descrito como um suicídio, e levou consigo os detalhes de sua vida.
A ideia de que ele fosse um espião incomoda bastante dentro da administração egípcia. Autoridades já chegaram a sugerir que ele fingia espionar para, na verdade, entregar informações imprecisas a Israel e debilitar suas ações. Na primeira vez em que ele avisou de uma invasão egípcia ela, afinal, não aconteceu. Por sua vez, o legislador al-Husseiny Tag al-Din afirmou que o novo filme da Netflix é parte de uma campanha mais ampla de destruição dos “símbolos nacionais egípcios”.
Entre a população, no entanto, o Washington Post diz que as reações são mais variadas. Há uma parcela que se preocupa, por exemplo, que o filme “Anjo” irrite o governo de tal maneira que decida bloquear o serviço da Netflix no país. Também há ressentimento pela escolha de um ator israelense para o papel do ex-presidente Sadat. Outras pessoas, no entanto, “disseram estar curiosas para ver o filme e sugeriram que será possivelmente um retrato mais próximo da verdade do que qualquer coisa que o governo egípcio já tenha oferecido”.