Em Damasco, estudantes de arte pintam destruição causada por guerra

Quando recentemente retornou às ruínas de Yarmuk, onde cresceu, o jovem Abdullah al-Hareth já não podia mais pintar. O distrito, tomado em 2015 pela organização terrorista Estado Islâmico, tinha sido devastado pelos bombardeios do regime sírio. O Exército só conseguiu reconquistar a região em maio passado, e a duras penas — com um custo humano e material aterrorizante. “No começo, eu não conseguia desenhar”, Hareth, 21, disse à agência de notícias France Presse. “Mas eu percebi que cada lampejo da vida é uma vitória sobre a morte.”

Esse jovem sírio faz parte de um projeto da ONG local Nur (“luz”, em árabe), que levou 12 estudantes de arte para retratar, durante uma semana, o estado de Yarmuk — um campo de refugiados palestinos localizado no sul na capital, Damasco. Quando a guerra começou, em 2011, havia 160 mil refugiados palestinos ali. Os conflitos levaram 140 mil deles a fugir, segundo a ONU. O regime sírio cercou o distrito, aprofundando a crise. Estive ali em 2014, quando visitei a Síria, e conversei com alguns dos moradores. Naquela época, circulavam duras imagens de multidões famintas pelas ruas do campo.

Refugiados aguardam entrega de alimento em Yarmouk, em imagem de 2014. Crédito ONU/Associated Press

“Eu estava com a garganta amarrada quando voltei para o acampamento”, Hareth afirmou à agência francesa. Na sua tela, ele retratou uma criança emergindo do chão com uma maçã vermelha nas mãos. “É uma alusão à vida que volta. Assisti a uma cena em que crianças com maçãs brincavam em antigos campos de batalha.” Outra das telas descrita pela France Presse foi pintada por Hinaya Kebabi, 22, retratando uma criança que perdeu um dos olhos durante os embates — a ferida é escondida pela ilustração de um novo olho em seu rosto.

Pintura feita por estudante de arte em Yarmuk, na Síria. Crédito Maher al Mounes/AFP