Iraque assiste a seu primeiro filme nacional em 25 anos
Depois de um quarto de século, iraquianos puderam assistir neste mês a um filme nacional nos cinemas de sua capital, Bagdá. O longa “Jornada”, que estreou no ano passado durante o festival de Toronto, rompe por fim a barreira imposta pelos conflitos das últimas décadas.
A esperança é de que o país possa, agora que expulsou a facção terrorista Estado Islâmico de suas principais cidades, reconstruir uma indústria que foi outrora uma das referências no Oriente Médio. Os cinemas de Bagdá exibem hoje, em geral, produções americanas.
“Jornada” narra a história de Sara, uma mulher iraquiana que –em meio à ocupação americana e à guerra civil– decide cometer um ataque suicida contra a estação de trem de Bagdá. É uma perspectiva moral da crise que devastou o país desde a invasão americana de 2003, disse o diretor Mohammed al-Daraji em entrevista à rede Al Jazeera. “Houve boicotes, sanções e, depois da guerra, a ocupação, a violência sectária”, afirmou. “Mas conseguimos nos reerguer. Foi o que aprendemos, e estamos chegando ao ponto em que vamos desafiar nossos limites.”
A história de “Jornada” é baseada em um incidente real, segundo o site Al-Monitor. A produção foi feita em parceria com o Reino Unido, a França e a Holanda. Entusiasmada com o primeiro lançamento nacional em 25 anos, o grupo de jovens cineastas Centro Independente de Filmes lançou um movimento para acumular um milhão de espectadores. O Iraque tem no total 37 milhões de habitantes.
O crítico iraquiano Mahdi Abbas disse ao Al-Monitor que o lançamento desse longa é “histórico para o cinema iraquiano, que está voltando após um hiato”. A maior parte dos atores são novatos, exceto por Amir Jabara, que atuou em “Nas Areias da Babilônia”. A protagonista, Zahraa Ghandour, é uma das estreantes. “Esperamos reviver o cinema no Iraque e enfatizar a necessidade de que o Estado apoie essa arte, que pode ajudar a conscientizar a população”, ela afirmou ao site.
Já se fala há anos sobre a ressurreição do cinema iraquiano, mas esse processo enfrenta uma série de desafios. Em 2012, por exemplo, a agência de notícias Reuters relatou que um dos obstáculos era a ausência de público — em meio a atentados terroristas, a população temia aglomerações. O jornal britânico Independent registrou anos antes outro problema: a carência de salas de cinema, na guerra.