Mulheres de véu dançam em clipe feminista da banda libanesa Mashrou Leila; assista ao vídeo

Aos 55 segundos, a câmera se detém em uma mulher com os cabelos cobertos por um véu azul. Esperamos que ela permaneça imóvel ou que satisfaça as fantasias orientalistas e se entregue à dança do ventre. Mas ela se recusa. Vestida de preto, séria, segue a música com movimentos modernos e precisos, em um prédio abandonado. Os gestos são fortes — o simbolismo, também.

O clipe “Roman”, lançado na semana passada pela banda libanesa Mashrou’ Leila, desafia as representações das mulheres muçulmanas. Elas não aparecem ali como vítimas, mas empoderam umas às outras. A banda explica, segundo a NPR: as mulheres no vídeo foram vestidas “para exagerar na articulação de seus backgrounds étnicos, uma maneira tipicamente empregada pela imprensa ocidental para vitimizá-las. O objetivo é perturbar a narrativa global dominante de feministas (brancas) hiper-secularizadas”. O clipe “celebra as diversas modalidades do feminismo”.

Conversei justamente sobre esses variados feminismos quando entrevistei a ativista egípcia Nawal El Saadawi. “Nós não podemos ter apenas um tipo de movimento de liberação da mulher”, ela disse. “Existem muitos conceitos e métodos, tanto em diferentes países quanto em diferentes classes sociais em um mesmo país. Divergências sociais, econômicas e culturais moldam as lutas.”

A banda libanesa Mashrou’ Leila é formada por homens, dos quais alguns são homossexuais — escrevi sobre o grupo há alguns anos. Mas o clipe de “Roman” é protagonizado por mulheres. A diretora é a libanesa Jessy Moussallem. A proposta, explica o vocalista Hamed Sinno, frequente defensor dos direitos das mulheres, era “que os homens não fizessem nada”. Deixar que dançassem.

A banda libanesa Mashrou Leila. Crédito Divulgação