Que versos do Alcorão foram lidos durante a posse de Donald Trump?

A posse de Donald Trump na sexta-feira passada (20) incluiu um ritual com líderes de 26 religiões, incluindo o islã. Representando a comunidade muçulmana, o imã Mohamed Magid leu dois trechos do Alcorão, no que foi visto como uma mensagem ao presidente americano. Os versos exaltavam a diversidade humana — enquanto Trump é ao mesmo tempo averso ao islã e à imigração.

O primeiro trecho lido por Magid é parte do capítulo “Al Hujarat” do Alcorão. Esses versos foram, segundo a tradição islâmica, revelados ao profeta Maomé em Medina com enfoque na etiqueta social entre muçulmanos, insistindo em que a fé é provada pela ação, e não pelas palavras. “Hujarat” significa, nesse contexto, “aposentos”. Especificamente, os aposentos de Maomé em Meca.

Em árabe:

يَا أَيُّهَا النَّاسُ إِنَّا خَلَقْنَاكُم مِّن ذَكَرٍ وَأُنثَىٰ وَجَعَلْنَاكُمْ شُعُوبًا وَقَبَائِلَ لِتَعَارَفُوا ۚ إِنَّ أَكْرَمَكُمْ عِندَ اللَّهِ أَتْقَاكُمْ ۚ إِنَّ اللَّهَ عَلِيمٌ خَبِيرٌ

Segundo a tradução de Helmi Nasr ao português:

Ó homens! Por certo, Nós vos criamos de um varão e de uma varoa, e vos fizemos como nações e tribos, para que vos conheçais uns aos outros. Por certo, o mais honrado de vós, perante Deus, é o mais piedoso. Por certo, Deus é Onisciente, Conhecedor.

O segundo trecho é parte do capítulo “Ar-Rum”, que registra a derrota do Império Bizantino (os “romanos” do título) pelo Império Sassânida em 614 d.C na Batalha de Antioquia. Um dos temas centrais é o embate entre monoteísmo e paganismo, essencial naquele período.

Em árabe:

وَمِنْ آيَاتِهِ خَلْقُ السَّمَاوَاتِ وَالْأَرْضِ وَاخْتِلَافُ أَلْسِنَتِكُمْ وَأَلْوَانِكُمْ ۚ إِنَّ فِي ذَٰلِكَ لَآيَاتٍ لِّلْعَالِمِينَ

Em português:

E, dentre Seus sinais, está a criação dos céus e da terra, e a variedade de vossas línguas e de vossas cores. Por certo, há nisso sinais para os sabedores.

A escolha dos versos surpreendeu, porque era esperado que o imã Magid apenas declamasse a convocação islâmica a prece, conhecida como “adhan”. Ele parece ter, portanto, respondido às críticas à sua participação na posse de Trump — que sugeriu, durante sua campanha, a proibição da entrada de muçulmanos nos Estados Unidos.