Moradores de Aleppo deixam mensagens nos muros: nós voltaremos

“A quem dividiu o cerco comigo: te amo. Aleppo, 15.dez.2016”

Essa é a tradução da fotografia que ilustra o título deste post. A mensagem foi pintada em um muro de Aleppo, entre tréguas e bombardeios, enquanto moradores eram retirados da cidade. O regime de Bashar al-Assad, apoiado pela Rússia, venceu nesta semana a rebelião neste local que tornou-se símbolo da guerra civil síria. Combatentes e civis serão deslocados em comboios para a província vizinha de Idlib.

A vitória do ditador, celebrada também pelo Irã e pela milícia libanesa Hizbullah, é a catástrofe desta população. Os avanços do Exército sírio foram antecedidos por semanas de intensos ataques, desmoronando hospitais e serviços públicos. O horror foi tamanho que moradores pediram autorização a seus líderes religiosos para matar seus familiares — um cenário de desespero semelhante ao que um morador de Madaya me relatou, em outubro.

A população tem deixado para trás, enquanto foge, suas marcas. Diversas fotografias circularam nestes últimos dias, registrando mensagens deixadas nos muros da cidade. Como a declaração de amor ali em cima. São depoimentos de quem resistiu por anos a presença de militantes armados e os bombardeios do regime. O site MiddleEastEye compilou algumas das mensagens. Duas delas estão abaixo:

"Nós voltaremos". Escrito em um muro de Aleppo. Crédito Reprodução/Twitter
“Nós voltaremos”. Escrito em um muro de Aleppo. Crédito Reprodução/MiddleEastEye
"Nossas construções destruídas são testemunhas de nossa resistência e de seus crimes". Crédito Reprodução/Twitter
“Nossas construções destruídas são testemunhas de nossa resistência e de seus crimes”. Crédito Reprodução/MiddleEastEye

O cerco à população civil e os bombardeios indiscriminados são crimes de guerra, como lembrou à Folha o diplomata brasileiro Paulo Sérgio Pinheiropresidente da Comissão Independente Internacional de Investigação sobre a Síria. Mas a perspectiva de que um dia essas ações sejam julgadas deve oferecer pouco consolo às quase 100 mil pessoas que viveram sob cerco em Aleppo.