Como as pessoas entravam no mar antes do biquíni e do burquíni?
Quando o biquíni foi criado, há 70 anos, esse traje de banho de duas peças incomodou os mais conservadores. Deixava muita pele à mostra. Hoje em dia, a preocupação na costa francesa é inversa –que mulheres muçulmanas se cubram demais. Diversos municípios proibiram o burquíni, incluindo Cannes e Nice, e têm levado ao debate sobre quem pode decidir o que alguém veste ou deixa de vestir.
O burquíni é a mistura entre o biquíni e a burca, traje que as mulheres muçulmanas conservadoras usam para esconder o corpo e o rosto. No burquíni, porém, o rosto está sempre visível. Essa roupa de banho foi inventada na Austrália por Aheda Zanetti, de origem libanesa, com quem conversei recentemente. “Eu não sou forçada a me vestir com modéstia. É minha escolha. Quero ser assim”, disse. “Visto o biquíni embaixo do burquíni, então tenho o melhor dos dois mundos.”
Mas, se o biquíni foi criado em 1946 e o burquíni surgiu recentemente, como afinal as pessoas tomavam banho de mar antes disso? O jornal britânico “Daily Mail” publicou uma reportagem respondendo a essa pergunta, com imagens do início do século 20.
As costas da França e da Inglaterra foram especialmente importantes nos séculos 18 e 19, quando era corrente a ideia de que entrar no mar e beber água salgada eram tratamentos médicos eficientes. Nessa época, preocupada com a reputação de quem se aproximasse do mar, a sociedade europeia utilizava as chamadas “máquinas de banho”.
As máquinas de banho eram casinhas ambulantes de madeira dentro das quais era possível trocar de roupa. A engenhoca era depois levada até a beirada do mar, e permitia o nado um pouco menos exposto. Mulheres por vezes entravam na água totalmente vestidas, incluindo o chapéu. No Reino Unido, o banho era segregado entre homens e mulheres.
Desde então, o costume de banhar-se no mar passou por rápidas transformações. Além do biquíni ter se tornado corriqueiro, há na Europa diversas praias dedicadas ao nudismo. As praias não costumam ser frequentadas por muçulmanas mais conservadoras, devido à interpretação do islã que elas seguem, em que é necessário cobrir-se.
Zanetti diz que quando criou o burquíni, há dez anos, seu objetivo era permitir que essas mulheres pudessem ir ao mar e integrar-se, assim, à sociedade australiana. Mas a invenção tem sido criticada na França justamente como um instrumento de segregação da comunidade muçulmana. Também se critica o burquíni como um instrumento da dominação masculina.
Sobre a polêmica, Zanetti diz: “Não acredito que nenhum político pode julgar o que uma mulher veste”.