Governo da Letônia quer proibir o niqab, traje islâmico vestido por apenas 3 mulheres
O governo da Letônia está estudando uma nova legislação para proibir o uso do niqab, o tecido que cobre o cabelo e o rosto de uma mulher, deixando visíveis apenas os olhos. O Ministério da Justiça desse país, onde vivem 2 milhões de pessoas, enxerga no traje islâmico um risco à segurança — principalmente em um contexto de migração à Europa.
Mas, como observa o jornal americano “New York Times”, essa seria uma medida de impacto, digamos, limitado. Estima-se que apenas três mulheres vestem o niqab na Letônia, entre os cerca de mil muçulmanos do país. O hijab, que cobre apenas o cabelo e é mais tradicional dentro do islã, não seria proibido pelo governo.
O ministro da Justiça, Dzintars Rasnacs, é membro do partido anti-imigração Aliança Nacional. Ele prevê que a legislação será aprovada no Parlamento e passará a valer a partir de 2017. Rasnacs diz que a medida não está relacionada ao número — pequeno — de pessoas que hoje cobrem o rosto no país, mas à perspectiva de imigrantes que não respeitem as normais locais. “Nós não protegemos apenas os valores culturais e históricos da Letônia, mas também da Europa”, ele disse ao “New York Times”. Após negociações com o restante do bloco europeu, a Letônia aceitou receber 776 refugiados durante os dois próximos anos.
O diário americano relaciona a legislação proposta a um crescente receio na Europa em relação aos imigrantes e refugiados vindos do Afeganistão, do Oriente Médio e do norte da África. Diversos dos membros do bloco europeu, como Hungria e Polônia, são contrários à entrada desses estrangeiros a seus países, e há um crescente sentimento contrário ao islã na região — inclusive na gélida Letônia, pouco procurada por imigrantes.
Uma das três mulheres afetadas pela legislação defendida pelo Ministério da Justiça, porém, não é imigrante ou refugiada. Liga Legzdina, 27, converteu-se ao islã depois de visitar o Egito. Ela hoje é conhecida como Fátima, nome de uma das filhas do profeta Maomé. Seu marido também converteu-se à religião.
O debate na Letônia passa pela ideia de defender a cultura local, diante da possível entrada de estrangeiros. Mas, como registra o “New York Times”, a vida de Legzdina se ajusta à tradição “quase ao ponto do clichê, incluindo colher flores ou cogumelos, dependendo da estação”. A despeito de sua relação com o país em que nasceu, ela diz ser vítima de preconceito nas ruas e ouvir ofensas que incluem estranhos lhe dizendo para “voltar de onde veio”.
Ela responde, em letão fluente.