Blog sobre o Oriente Médio, é produzido por Diogo Bercito. O repórter foi correspondente da Folha em Jerusalém e é mestre em estudos árabes pela Universidad Autónoma de Madrid.
Uma das razões pelas quais a batalha por Palmira foi acompanhada com ansiedade é sua importância histórica. A cidade, no deserto sírio, foi no século 3 d.C o centro de um poderoso império que disputou o controle da região com o Império Romano. Escrevi sobre essas ruínas em maio passado, quando o Estado Islâmico tomou o território.
Historicamente, Palmira está associada ao nome de Zenóbia. Figura emblemática, essa rainha foi retratada por pintores e escultores como um tema clássico recorrente. Ela simbolizou, na Antiguidade, tanto a beleza quanto a erudição –além da perda. É um modelo de mulher oposto àquele defendido pelo Estado Islâmico.
Julia Aurelia Zenobia, conhecida em árabe como Al-Zabba, tornou-se rainha de Palmira após a morte de seu marido, Septimius Odaenathus, em 267 d.C. Ela conquistou os territórios ao redor de Palmira e chegou a controlar o Egito, após decapitar o líder romano Tenagino Probus.
[…] era escuro e de um tom moreno, seus olhos negros e poderosos para além do habitual. Seu espírito era divinamente grandioso, e sua beleza, incrível. Seus dentes eram tão brancos que muitos pensavam que ela tinha pérolas no lugar deles. Sua voz era clara e como a de um homem. Sua severidade, quando necessária, era a de um tirano. Sua clemência, quando ela pressentia ser justa, era a de um bom imperador.
Zenóbia olha pela última vez para Palmira. Pintura de Herbert Schmalz (1856–1935). Crédito Reprodução
Segundo alguns relatos, a rainha de Palmira foi levada a Roma e desfilada pelo imperador com grilhões de ouro em 274 d.C. Não há consenso sobre as circunstâncias de sua morte, que variam entre a decapitação –e a misericórdia de Aureliano.