Refugiados iraquianos se reencontram com o gato Kunkush, perdido na travessia
Quando Suva al-Alaf fugiu de Mossul, no Iraque, ela levou consigo seus cinco filhos –e seu gato, Kunkush, a sexta parte da prole.
Aterrorizada pela violência trazida à região pela organização terrorista Estado Islâmico, ela cruzou a Turquia e chegou à ilha grega de Lesbos em uma precária embarcação de borracha, como as outras tantas que afundam diariamente no Mediterrâneo. Dali, a família seguiu para a Noruega.
Kunkush, no entanto, sumiu.
Ele foi mais tarde encontrado por pescadores, que lhe apelidaram de “Zeus”. Kunkush estava sujo de areia, acuado, e maltratado pelos gatos locais. Teve de ser separado dos demais felinos para conseguir se alimentar. Um veterinário local lhe vacinou, e voluntários organizaram uma campanha on-line em busca de sua família.
Kunkush rapidamente encontrou um lar adotivo. Viajou à Alemanha, com os gastos pagos por uma campanha de arrecadação de R$ 7.000. Até que finalmente a família Alaf, já na Noruega, leu sobre as aventuras do gato na imprensa internacional. Na sequência, os refugiados organizaram uma emocionada conversa via Skype com o gato. Em poucos dias, Kunkush viajou à Noruega. O reencontro foi registrado pelo jornal britânico “Guardian”.
Em tempos de calamidades humanitárias, como a guerra na Síria, há frequentes críticas às notícias sobre animais. É sugerido, por exemplo, que há alguma crueldade em preocupar-se com um gato, enquanto há multidões de pessoas afetadas por conflitos na região. Cinco milhões de sírios deixaram o país, um milhão deles rumo a Europa. No ano passado, 3.000 pessoas morreram afogadas no Mediterrâneo tentando escapar de situações extremas como essa.
Mas um dos organizadores da campanha de arrecadação para a viagem de Kunkush enxerga a história do gato como um símbolo mais amplo.
De uma pequena maneira, sua jornada representa o drama de todos aqueles que buscam uma vida melhor. Precisamos uns dos outros. Se não fosse pelas pessoas que perceberam seu estado vulnerável e lhe protegeram, ele provavelmente estaria lutando por comida.
A revista americana “Newsweek” relatou, por sua vez, que a Síria é um pesadelo não apenas para os humanos, mas também para os animais. Gatos e cachorros de rua, aliás, podem tornar-se um sério problema para as comunidades locais, como visto no Afeganistão –o que faz deles uma questão de interesse público.
Mas as pessoas de fato se interessam mais por um gato do que por um ser humano? É possível, segundo uma reportagem publicada pela revista “Wired”:
Ao menos em algumas circunstâncias, nós damos mais valor a animais do que a pessoas. […] Nossas atitudes em relação a outras espécies estão repletas de inconsistências. Nós dividimos a Terra com quase 40 mil outros tipos de animais vertebrados, mas a maior parte de nós só se incomoda com o tratamento dado a alguns deles. Vocês sabem quais: bebê foca, elefante de circo, chimpanzé, orca etc. E, enquanto amamos profundamente nossos animais de estimação, há pouco drama em relação aos 24 cavalos que morrem em corridas toda semana nos EUA.