Ministro israelense quer deportar gatos por motivos religiosos
Enquanto escrevo este post, um minúsculo gato ronrona em algum beco da cidade antiga de Jerusalém, esperando que alguém lhe acaricie o queixo. Minha gata, que encontrei há dois anos em um lixo jerosolimita e trouxe até a Espanha, dorme no sofá.
Também neste meio-tempo Uri Ariel, ministro israelense da Agricultura, defende que os gatos de rua de Israel –estimados em 2 milhões de felinos– sejam deportados do país, em vez de esterilizados. A proposta, revelada na segunda-feira (2) pelo jornal local “Yedioth Ahronoth”, foi recebida com horror por organizações protetoras dos animais no país, e tomou espaço nos influentes jornais “Haaretz” e “Jerusalem Post”. Uri representa um partido de extrema-direita.
Quem já esteve em Jerusalém talvez se lembrse dos gatos de rua como parte essencial da paisagem histórica. Onipresentes nas ruelas da cidade, eles se esfregam nas pernas dos visitantes implorando por comida. Se sentam em tumbas medievais, nas ruínas de pilares romanos e em objetos sagrados.
Mas os gatos de Jerusalém são, também, uma questão pública. Quando adotei minha gata, tive constante apoio de uma organização de defesa dos direitos dos animais, que ali tem uma tarefa hercúlea. Castrar, vacinar e resgatar felinos é um esforço diário.
O Estado entra com um orçamento anual de R$ 4,5 milhões para a castração. Ariel queria transferir esse valor para a deportação dos bichanos, diminuindo os custos. Diante da indignação popular, o ministro parece ter desistido da ideia, mas ainda se recusa a destinar a verba para esterilizar os animais –os milhões serão gastos em pesquisa. Segundo o “Haaretz”, a castração fere as crenças religiosas do ministro.
Tamar Zandberg, membro do partido de esquerda Meretz e parlamentar no país, criticou em sua página no Facebook as medidas propostas por Ariel. Segundo Zandberg,
O ministro Uri Ariel agora propõe interromper a castração por razões religiosas. O resultado não será a absorção de gatos em um terceiro país, mas um aumento dramático no número de gatos nascidos anualmente, o que também vai aumentar o número de gatos nas ruas que morrem todos os anos de fome, sede, frio e desidratação.
Segundo a TV árabe Al-Arabiya, o legislador de oposição Yoel Hasson (do partido HaTnuah) criticou as propostas de Ariel como “medievais” e “imorais”. “Se precisávamos de mais provas da influência que o extremismo religioso tem em Israel, o ministro Ariel mostrou que estamos indo em direção a uma teocracia”, afirmou. “Hoje são gatos. Amanhã, o ministro vai encontrar um motivo religioso para deportar seres humanos.”