Estudo britânico reúne histórias de 58 desertores do Estado Islâmico
Desde que o Estado Islâmico declarou seu califado, em 2014, analistas têm tentado entender por que razão uma multidão de militantes decidiu unir-se a essa organização terrorista. Há entre seus membros cidadãos de diversos países, incluindo o Brasil.
Menos atenção tem sido dada, porém, àqueles que decidem abandonar o Estado Islâmico. São milhares de militantes que, diante da violência dos métodos, ou por discordar de sua ideologia, deixam essa organização e fogem de seu território.
O think tank ICSR (Centro Internacional para o Estudo da Radicalização e da Violência Política) publicou nesta segunda-feira (21) um estudo inédito sobre o tema. Com título “Vítimas, Perpetradores, Recursos: As Narrativas dos Desertores do Estado Islâmico”, o documento registra as histórias de 58 militantes que deixaram a organização terrorista.
Brandnew: ICSR report on why people leave ISIS: http://t.co/9YhmlUQ9tI
— ICSR (@ICSR_Centre) 21 setembro 2015
O estudo do ICSR — ligado ao King’s College de Londres — foi bem recebido pela mídia internacional, incluindo o jornal britânico “Guardian” e o americano “New York Times”. O “Guardian” em particular ressaltou o pedido do think tank de que governos ocidentais deixem de punir ex-membros do Estado Islâmico e passem a protegê-los.
Segundo a pesquisa, desertores precisam ter incentivos para denunciar os abusos do Estado Islâmico e, assim, impedir que mais pessoas se juntem às fileiras dessa organização terrorista. Hoje, se admitem que foram membros do auto-declarado califado, suas declarações são imediatamente utilizadas contra eles.
O think tank não pede que os Estados deixem de punir quem se una à organização terrorista. O ato é criminoso. Mas, de acordo com os especialistas do ICSR, há vantagens em incentivar que desertores possam manifestar-se em público –e protegê-los por isso, diante da possibilidade de represálias do Estado Islâmico.
Em seu estudo, o ICSR encontrou uma série de narrativas recorrentes, incluindo críticas à violência do Estado Islâmico, a seus ataques contra outras organizações sunitas, a sua corrupção e à aspereza da vida em seu território.
São elementos de contra-propaganda que podem ser uma ferramenta útil no combate aos avanços de terroristas no Oriente Médio. A força bruta, afinal, não parece estar dando muitos resultados.
O jornal americano “Washington Post” publicou recentemente, por exemplo, uma comparação entre o número de bombardeios contra o Taleban e o Estado Islâmico. Em um ano de ataques na Síria e no Iraque, entre 2014 e 2015, os EUA utilizaram mais armas do que nos ataques no Afeganistão entre 2010 e 2015.