Imagem de soldado israelense perseguindo criança palestina viraliza
A imagem do final de semana em Israel não é a do famigerado Pixuleco, o boneco inflável do ex-presidente Lula. Em Tel Aviv e em Jerusalém, um dos principais temas do noticiário neste dias é a fotografia de um soldado israelense tentando deter uma criança palestina. O jornal local “Haaretz” descreveu a cena como um indício de que o Exército perdeu sua consciência.
Não há nada como as imagens divulgadas em Israel e ao redor do mundo no final de semana passado para mostrar a face feia, louca e sem sentido da ocupação israelense. O vídeo foi gravado na última sexta-feira durante um protesto semanal no vilarejo de Nabi Saleh, na Cisjordânia. Nele, um soldado das Forças de Defesa de Israel aparece tentando prender a força um garoto palestino de 12 anos. Algumas mulheres palestinas tentam impedir o soldado, até que seu comandante dá instruções para que ele deixe a criança ir embora.
De acordo com o “Haaretz”, o Exército em seguida afirmou que o garoto palestino estava arremessando pedras contra o soldado. As Forças de Defesa de Israel também disseram que o soldado, naquele momento, não havia percebido que estava lidando com uma criança. Ambas as afirmações são contrariadas pelos relatos da imprensa.
A cobertura do caso, é claro, varia de acordo com o jornal. O “Haaretz” mantém uma posição crítica do Exército israelense. O popular site Ynet, por outro lado, publicou a notícia com a manchete de que “garota morde soldado”, em que o militar parece ser a vítima de um “protesto violento”.
Em um caso ocorrido no mês passado, em que um jovem palestino lançava pedras contra um veículo militar, um soldado usou sua arma e disparou nas costas do adolescente, que morreu. É o tipo de reação defendida por grupos de extrema-direita, aos quais as atuais regras de combate do Exército israelense “amarram as mãos dos soldados” na hora de reagir a situações como essa.
Escreve o “Haaretz”:
Mas como mil testemunhas, as imagens mostram que a vida do soldado não estava em risco durante nenhum segundo sequer. Em diversos outros casos as vidas de soldados não estavam ameaçadas, e mesmo assim eles dispararam contra arremessadores de pedras. O poder de uma câmera é mais forte, aqui, do que qualquer outra coisa.
O jornal israelense de alguma maneira elogia a atuação do soldado, que não disparou na sexta-feira, e a de seu comandante, que ordenou a soltura do garoto. Mas, segundo o “Haaretz”, o vídeo também impõe uma pergunta: o que o soldado deveria ter feito? As imagens mostram que ele não sabia, e provavelmente tampouco seu comandante, e talvez mesmo um veterano não tivesse ideia de como agir.
O diário “Jerusalem Post” também critica o episódio. Na mesma linha, publicou recentemente um texto que diz:
O que ninguém parece se perguntar é a razão pela qual, depois de 48 anos gerenciando a Cisjordânia, o Exército é repetidamente enviado para lidar com crianças que arremessam pedras. É estranho que recrutas, recebendo salários entre US$ 150 e US$ 300 ao mês, tenham que ser ao mesmo tempo soldados especialistas, profissionais no controle de protestos e às vezes um tipo de funcionário social e de relações com a mídia para lidar diariamente com suas funções.