Paulo Coelho defende Alcorão e diz que livro “mudou o mundo”

Diogo Bercito
Publicação de Paulo Coelho no Facebook.
Publicação de Paulo Coelho no Facebook.

Uma notícia que teve alguma repercussão no mundo árabe mas, por enquanto, aparentemente nenhuma no Brasil: o escritor brasileiro Paulo Coelho, autor de “O Alquimista”, defendeu o Alcorão em uma mensagem publicada em sua página oficial de Facebook.

Paulo Coelho fotografou uma edição do Alcorão, livro sagrado do islã, em seu perfil. Era parte de uma exposição de “livros que mudaram o mundo”. Mais de 37 mil pessoas aprovaram a mensagem, mas uma usuária da rede social retrucou: “Sério!!! Esse livro é fonte de violência e assassinato”. O comentário dela tinha, até a manhã desta terça-feira (18), 298 curtidas.

O escritor respondeu:

Não é verdade. Sou cristão, e por séculos nós tentamos impôr nossa religião pela força da espada – confira “cruzadas” no dicionário. Matamos mulheres – chamando elas de bruxas, e tentamos parar a ciência – como no caso de Galileu Galilei. Então não é culpa da religião, mas de como as pessoas manipularam ela.

Sua mensagem teve mais de 6.000 “likes”, e motivou dezenas de comentários agradecendo seu posicionamento.

Reprodução do Facebook do escritor Paulo Coelho.
Reprodução do Facebook do escritor Paulo Coelho.

A discussão a respeito do impacto do Alcorão em um comportamento visto como “violento” não é recente. A autora de origem somali Ayaan Hirsi Ali, por exemplo, acredita que o fim do terrorismo passa por uma reforma do islã (entrevistei Ali para a Folha, neste ano). Pesquisadores notam, ademais, que o livro sagrado do islã surgiu em dois contextos distintos, em Meca e em Medina, e seu conteúdo reflete assim momentos políticos diversos.

Um dos trechos mais emblemáticos, nesse sentido, é o chamado “verso da espada”. Alcorão 9:5:

.فَاقْتُلُوا الْمُشْرِكِينَ حَيْثُ وَجَدْتُمُوهُمْ

Ou, em português:

Matai os idólatras onde quer que os acheis.

A interpretação desse verso, no entanto, é controversa, e depende um contexto histórico que nem sempre é lembrado — disputas não religiosas, mas políticas, na península Arábica. Há uma série de especialistas que consideram o islã, por outro lado, como uma “religião da paz”, notando aliás que a palavra “salaam” (paz) está relacionada linguisticamente ao termo “islam” (submissão).