Internet ataca o Estado Islâmico com melões e fofura, e talvez funcione
O Estado Islâmico é uma garota meiga, vestida de negro, com a calcinha aparecendo e obcecada por melão.
Enquanto governos e especialistas discutem há uma eternidade –e sem sucesso– que contra-narrativa pode ser eficiente diante da propaganda dessa organização terrorista, usuários da internet tomaram a si a tarefa e criaram a bonequinha ISIS-chan. Com esses desenhos fofos, esperam deter os avanços de militantes conhecidos por decapitar e crucificar seus inimigos.
Parece ingênuo. Mas é, dados os recursos, bastante engenhoso. A campanha da ISIS-chan, que aparece no Twitter marcada como #ISISchan ou @ISISvipper, é o que se chama de “troll” na internet. Usuários inundam contas relacionadas ao Estado Islâmico com imagens fofas, impossibilitando o trabalho de propaganda e recrutamento. Recentemente os ativistas-hackers do Anonymous publicaram uma lista de 750 dessas contas, algumas com mais de 10 mil seguidores.
A difusão de imagens meigas com esse personagem, que prefere esfaquear um melão do que um refém, tem também outro efeito prático: altera os cálculos dos mecanismos de busca na internet, que passam a exibir a ISIS-chan quando alguém procura informações sobre o Estado Islâmico, em vez das imagens violentas de vítimas decapitadas ou queimadas vivas.
Segundo o site Know Your Meme, que mapeia esses fenômenos da rede, a ideia surgiu em 24 de janeiro em um painel de discussões japonês. As características físicas da ISIS-chan foram decididas em um mecanismo aleatório, uma estratégia popular entre usuários desses sites. Em três horas, já tinha mais de mil respostas. Tecnicamente, a ISIS-chan é um “moe“, uma subcultura japonesa fascinada por personagens fofos.
As imagens dessa garota fofa têm se espalhado rápido pela internet, e em geral com boa recepção, apesar de não faltar quem aponte o limite da piada –afinal, o assunto é uma milícia radical que tem causado a morte de multidões, na Síria e no Iraque. Mas a brincadeira tem suas próprias regras, e desde o início foi estabelecido que é proibido insultar o islã, utilizar o Alcorão ou o profeta Maomé, desrespeitar reféns ou publicar pornografia. Hoje, o @ISISvipper tem quase 5.000 seguidores.
@Mehless @BRAIX3N ISIS-chan a run for her melon. Demand melons! #ISISchan #ISIS #ISIL #daesh #ISIS_chan #ISISちゃん #IS pic.twitter.com/ywIo8BSHqm
— ISISちゃん 普及bot(公式) (@isisvipper) 16 maio 2015
A brincadeira não é, é claro, a solução ao terrorismo no Oriente Médio. Apesar da ironia do início deste relato sobre a demora de especialistas em encontrar uma contra-narrativa, parece sim ser fundamental ter uma maneira de neutralizar a propaganda do Estado Islâmico na internet –demonstrando que o islã não equivale à violência. Seria uma maneira de interromper o fluxo de milhares de recrutas ao auto-declarado califado, incluindo as multidões vindas da Europa. Nessa linha, a escritora Ayaan Hirsi Ali, que entrevistei recentemente, pede inclusive uma reforma radical da religião.
A ISIS-chan é menos ambiciosa. Por ora, insiste em uma mensagem simples: “As facas são para cortar melão, e não cabeças”.