Polícia do Estado Islâmico pune homens sem barba em Mossul

Diogo Bercito

Folhetos distribuídos pelo Estado Islâmico em Mossul avisam que desde 1º de junho é proibido barbear-se na cidade, a principal fortaleza dessa organização terrorista. A medida, baseada na interpretação radical de que barbear-se é um pecado no islã, está aterrorizando jovens na região — por exemplo, um rapaz de 18 anos ouvido pela agência de notícias AFP que simplesmente ainda não tem pelugem no rosto.

Os relatos de que militantes do Estado Islâmico irão punir os imberbes são um indício do crescimento, ali, da instituição islâmica pré-moderna conhecida como “hisba”, ou “polícia da moralidade pública”. Assim, essa não é apenas a notícia de mais uma barbaridade cometida no auto-declarado califado. É também uma demonstração de quais são as referências históricas dessa organização terrorista.

A instituição da “hisba” surgiu no século 9 e entrou em declínio nos séculos seguintes, sendo extinta durante as reformas do período moderno. O historiador Michael Cook escreveu um importante estudo sobre esse tema.

Reprodução de folheto entregue em Mossul proibindo barbear-se.
Suposta reprodução de folheto entregue em Mossul proibindo barbear-se

A criação de uma polícia encarregada de monitorar e punir o que o Estado Islâmico entende como desvios morais é preocupante, em uma cidade como Mossul, que tinha 2 milhões de habitantes quando foi tomada há um ano por militantes. Ali, o Estado Islâmico tem um rígido controle da vida social.

“Barbear e aparar barbas leva ao pecado”, diz o panfleto distribuído na cidade, de acordo com a agência de notícias AFP. O papel inclui trechos da tradição islâmica e frases atribuídas ao profeta Maomé. Esse tipo de “patrulha da barba” existiu também no Afeganistão do durante a presença do Taliban, onde homens eram detidos por até uma semana após aparar a barba.

O interesse pela barba remonta a visões específicas do islã, como as do jurista medieval Ibn Taymiyyah (sécs. 13-14). Nessa interpretação, um muçulmano não pode “imitar” os pagãos, ou seja, não pode ter a mesma aparência deles. Assim, o profeta Maomé teria recomendado que homens aparassem o bigode e deixassem a barba crescer, para diferenciar-se.