No sul do Líbano, museu do Hizbullah exibe armamentos israelenses
No jardim de um museu no sul do Líbano, próximo à fronteira israelense, uma das esculturas que mais atraem visitantes é a de um tanque de guerra com o canhão amarrado como se fosse uma bexiga de palhaço. “O orgulho da indústria militar do inimigo”, ironiza a placa explicativa. Crianças se amontoam ao redor para fotografar-se diante da criatura adormecida.
Estive no domingo passado (24) em Mlita, o Museu para o Turismo de Resistência –complexo inaugurado pelo Hizbullah em 2010 comemorando a retirada de Israel do território libanês. A saída do Exército israelense do Líbano, em 2000, é celebrada em 25 de maio como um feriado nacional.
São cerca de 10 mil visitas por mês, de acordo com um de seus responsáveis, Sheikh Ali, ao custo simbólico de US$ 1. “O projeto ainda está pela metade. Minha ideia é transformar Mlita em um vilarejo turístico, com um teleférico, hotéis, restaurantes”, diz. “Queremos atrair um turismo religioso e de resistência. Há tumbas de profestas na região. Isso eterniza o sacrifício dos mártires da resistência.”
O complexo de Mlita consiste de um centro multimídia, onde um vídeo introduz visitantes à história militar da organização, um jardim com esculturas feitas de armamentos, um galpão com equipamentos israelenses capturados e um bosque –entre as oliveiras, é possível ver os esconderijos que militantes utilizaram durante os embates com Israel e entender suas estratégias.
Durante a visita, de cerca de duas horas, o Hizbullah narra sua própria versão de como foram esses combates, em que a organização xiita –surgida em 1982 apresentando-se como movimento de resistência à presença de Israel no Líbano– justifica suas ações e declara sua vitória.
A história, porém, é contestada por diversos atores internacionais. O Hizbullah é considerado uma organização terrorista pelos EUA e por Israel, acusada de atentados e sequestros. No Líbano, é uma das principais forças políticas, mas hoje enfrenta oposição de diversos setores da sociedade, por exemplo, devido a sua participação no conflito sírio.