Com praias privatizadas, libaneses viajam em busca do mar

Diogo Bercito
Praia de Kfar Abida, nas imediações de Batrun. Crédito Diogo Bercito/Folhapress
Praia de Kfar Abida, nas imediações de Batrun. Crédito Diogo Bercito/Folhapress

Um clássico libanês dos anos 80, cantado por Samir Hanna, dá o conselho: não vá muito ao mar, a praia pode queimar sua pele. Eu não poderia ter cantarolado outra canção no último domingo (17), quando viajei até a praia de Kfar Abida, próxima a Batrun (1h30 a partir de Beirute). Ali, sentado nas pedras e mergulhando em uma água transparente e gelada, pude ter uma primeira ideia de como, afinal, os libaneses vão à praia. A partir desta semana, com a chegada de uma onda de calor, o mar vai se tornar o programa predileto de muitos neste país.

É possível ir ao mar na capital, Beirute, mas quase todas as praias são particulares. Quem tem paciência de esperar um pouco para molhar os pés costuma aproveitar o final de semana para viajar a alguma outra cidade costeira, o que congestiona a rodovia entre Beirute e Trípoli (ao norte). E por “praia” vale de tudo, mesmo sem areia — como Kfar Abida, que é basicamente uma ladeira rochosa diante da água do Mediterrâneo.

A questão das praias particulares é vista como um sério problema no país, e faz com que libaneses tendam a passar todo o dia no mar, uma vez que tenham pago o preço da entrada (entre US$ 10 e US$ 30). O blog Baladi, conhecido por sua cobertura de assuntos locais, recentemente compilou uma lista das poucas opções gratuitas no país. O site árabe Al-Akhbar também escreveu sobre esse assunto há alguns anos.

A experiência na praia, como em outros países, não está restrita apenas a bronzear-se e mergulhar. Mas o equivalente do biscoito Globo e do mate cariocas inclui, no Líbano, o peixe frito e o copo de arak (uma bebida destilada de anis apelidada “leite de camelo” pela aparência quando misturada à água). O arak, em especial, exige uma técnica ancestral nesta costa fenícia: bebê-lo em um copo de papelão protegido dentro de um tênis.

Outro clássico do domingo na praia é fumar o narguilé, apesar das recomendações contrárias da Organização Mundial da Saúde, que aponta o risco dessa prática, mais agressiva que fumar cigarros. O tal cachimbo de água é posicionado próximo à mesa — no meu caso, em um chão irregular e inclinado, em uma cena um pouco agoniante — e cada fumante usa seu próprio bico de plástico, por questões de higiene. “É a camisinha libanesa”, um colega me explicou.

Para que os leitores possam ter a mesma referência deste Orientalíssimo blog, compartilho abaixo o vídeo de “Ó você cujo nome não conheço”, onde Samir Hanna pede que as mulheres não frequentem a praia para proteger suas peles (clique aqui para ver a letra em árabe). Na sequência, algumas fotos da praia de Kfar Abida, para incentivar quem esteja pensando em passar uma temporada praieira por aqui.

 

Peixe frito com salada. Crédito Diogo Bercito/Folhapress
Peixe frito com salada. Crédito Diogo Bercito/Folhapress
Técnica para beber arak na praia. Crédito Diogo Bercito/Folhapress
Técnica para beber arak (bebida destilada de anis) na praia. Crédito Diogo Bercito/Folhapress
"Camisinha libanesa", a proteção individual para fumar narguilé. Crédito Diogo Bercito/Folhapress
“Camisinha libanesa”, a proteção individual para fumar narguilé. Crédito Diogo Bercito/Folhapress