Em “tinder” libanês, tamanho que conta é o da barba

Diogo Bercito

Você é sunita ou xiita? Tem barba comprida ou curta? Solteiro, divorciado ou viúvo? O quanto você reza?

Perguntas como essa têm sido feitas de smartphone para smartphone no Líbano, em aplicativos especializados em relacionamentos. São questões ausentes nas plataformas mais famosas do nicho, como o Tinder e o Grindr, utilizados no Brasil por quem busca companhia (ou sexo imediato, alguns dirão). Mas, exatamente por fazer sentido entre setores mais conservadores da sociedade libanesa, essas informações estão empurrando adiante os aplicativos Muzmatch e Matchmallows, em que usuários podem preencher campos sobre religião.

Tela de abertura do Muzmatch. Crédito Reprodução
Tela de abertura do Muzmatch. Crédito Reprodução

Essa tendência apareceu recentemente em uma reportagem do jornal libanês “Daily Star”, sob o título “novos aplicativos atendem libaneses solitários”. A esse diário o fundador do Muzmatch afirmou que “não há nada semelhante no mercado muçulmano”. Entre as funções específicas dessa plataforma estão, por exemplo, as opções de borrar seu rosto ou enviar semanalmente um resumo das suas conversas para o seu guardião legal, no caso de mulheres.

Esse tipo de preocupação levou também, em abril, ao lançamento do aplicativo Matchmallows, que se promove a partir da ideia de que possibilita uma análise de personalidade mais específica para o público muçulmano conservador — entre o qual, por exemplo, mulheres não se sentem tão confortáveis em disponibilizar suas fotografias em redes sociais.

Será interessante analisar como esses aplicativos se desenvolverão nos próximos meses, em sociedades cujas normas para relacionamentos têm as suas especificidades. No caso de países com mais restrições, como a Arábia Saudita, os shoppings são um dos poucos espaços públicos para a interação entre ambos os sexos. Relacionamentos são, por vezes, vistos como um assunto familiar, com intervenção do pai e dos irmãos nas escolhas e em seu desenrolar.

Meu perfil no Muzmatch. A data de nascimento é fictícia. Crédito Reprodução
Meu perfil no Muzmatch. A data de nascimento é fictícia. Crédito Reprodução

Fiz um breve teste do Muzmatch. Deixei em branco o endereço de e-mail de meu guardião legal, já que não tenho um. Deixei marcada a opção “sunita” apenas para exemplificar. Usei uma data de aniversário falsa. O aplicativo me sugeriu algumas candidatas ao meu redor, especificando a vestimenta de cada uma delas. Apesar das particularidades, o aplicativo parece funcionar na mesma lógica de seus equivalentes, como o Tinder, a partir da localização e das possibilidades de relacionamento.

A sugestão de paquera do Muzmatch, segundo meu perfil. Crédito Reprodução
A sugestão de paquera do Muzmatch, segundo meu perfil. Crédito Reprodução

Ambos os aplicativos Muzmatch e Matchmallow são gratuitos, com opção de pagamento para utilizar versões mais completas (por exemplo, visualizar perfis de usuários fora de seu país). O Muzmatch — disponível na loja brasileira do iTunes — tem mais de 5.000 usuários, enquanto o Matchmallows — aparentemente não disponível para brasileiros — foi baixado em torno de 10 mil vezes, a maior parte delas no Líbano. Há planos de expansão em outras línguas e países. “O mercado muçulmano é global, e está espalhado”, afirmou o fundador do Muzmatch ao “Daily Star”.