O violoncelo e o atentado em Bagdá

Diogo Bercito
Karim Wasfi toca violoncelo em Bagdá. Crédito Reprodução
Karim Wasfi toca violoncelo em Bagdá. Crédito Reprodução

Depois que um carro-bomba explodiu no distrito de Mansur, em Bagdá, deixando 10 mortos e 27 feridos, o maestro Karim Wasfi decidiu agir. Ele colocou uma cadeira entre os escombros e começou a tocar seu violoncelo. A notícia, contado pela Al Jazeera, contaminou a internet no mundo árabe com essa história de delicadeza entre a violência.

Vale a pena ler a entrevista que esse canal de televisão, baseado no Qatar, fez com o maestro Wasfi. Traduzi três trechos abaixo. O vídeo pode ser visto no YouTube.

Por que você foi ao local de um atentado para tocar violoncelo?
Foi em parte pela crença de que civilidade e refinamento deveriam ser o estilo de vida consumido pelas pessoas. Para conseguir isso, acho que as artes em geral, e a música em particular, são uma ótima maneira de enviar essa mensagem. Eu estava em ação tentando encontrar o equilíbrio entre feiura, insanidade e atos grotescos e indecentes de terror. Para equalizá-los ou superá-los com atos de beleza, criatividade e refinamento.

Então tocar o violoncelo é o oposto a detonar uma bomba?
Sim. Criar vida, basicamente. Não quero que isso se torne uma inevitabilidade da situação no Iraque: a morte experimentada em uma dose diária. Não, eu quero fazer o oposto. A vida experimentada diariamente. Mesmo que não tenhamos normalidade. Quando as coisas estiverem normais, eu terem mais responsabilidades e obrigações. Mas, quando as coisas estão insanas e anormais assim, tenho a obrigação de inspirar as pessoas.

Como as pessoas reagiram quando você começou a tocar?
Eles amaram. Soldados choraram. Beijaram, bateram palmas, se sentiram vivos. Se sentiram humanos e apreciados e respeitados, o que não me surpreende.