A morte do Facebook jihadista

Diogo Bercito
Mensagem no site 5elafabook. Crédito Reprodução
Mensagem no site 5elafabook. Crédito Reprodução

Não durou nem um dia. A página 5elafabook.com, uma espécie de Facebook jihadista lançado no começo de março, foi bloqueada em seguida. O destino da empreitada foi quase um enredo pouco criativo –o 5elafabook havia sido criado como alternativa às demais redes sociais justamente porque ali suas contas eram encerradas. E encerrou-se.

“5elafa” tenta reproduzir a palavra árabe “khilafa” (“califado”), onde o “5” representa o som do “kh”. O truque numérico é comum na internet, para adaptar a língua árabe ao teclado latino, que não tem sinais para alguns dos sons.  O site foi montado com uma interface parecida com a do Facebook, de onde vem a ideia de “CalifadoBook”. Havia também uma conta oficial no Twitter para o projeto.

A história de ascensão e queda do 5elafabook, contada nos meios de comunicação, se parece com uma curiosidade. É quase cômico, a primeira vista, que um site seja criado para desviar da censura e seja em seguida cancelado. Mas a este Orientalíssimo blog o causo do Facebook do califado é também um exemplo de alguns sintomas do jihadismo contemporâneo. Pouco engraçados, aliás.

O 5elafabook foi criado, afinal, como estratégia para manter viva a mensagem violenta dessa interpretação radical do islã, diante dos esforços homéricos da comunidade internacional em silenciá-la. “Nós amamos morrer tanto quanto vocês amam viver, e prometemos que vamos lutar até o último de nós”, diz uma mensagem no site bloqueado.

O Estado Islâmico –ao qual o 5elafabook diz não ser oficialmente ligado– entendeu antes dos analistas que o espaço de radicalização de jovens não é mais a mesquita, onde seus militantes estão sob a vigilância da comunidade e dos serviços secretos. A transformação de um jovem em jihadista ocorre hoje nos recantos mais obscuros da internet, por exemplo, em fóruns de discussão escritos em árabe. Há uma série de projetos que monitoram esses espaços, hoje, como o Jihadology e o SITE.

Também ali, é claro, seus membros se arriscam à vigilância. Os jornais estão repletos de notícias de militantes presos a caminho do Estado Islâmico, detidos após os serviços de Inteligência monitorarem as suas mensagens na internet. Em alguns casos, investigadores se passam por jihadistas, na internet, para servir de isca. Há histórias de jornalistas que usam a mesma tática, aliás.

É nessa linha que se explica a mensagem publicada no 5elafabook um dia depois de suas operações terem sido suspensas –“para proteger a informação e os detalhes de seus membros e sua segurança”, diz o projeto. Não se sabe quantos eram os usuários. No fundo da mensagem, há um mapa do mundo com o carimbo do Estado Islâmico e a profissão de fé do islã: não há um deus que não seja Deus.

De acordo com a agência de notícias Reuters, apesar de o 5elafabook afirmar não ter vínculos com o Estado Islâmico, o site foi registrado com um endereço de Mossul, a principal cidade dos jihadistas no território iraquiano. Há também um endereço egípcio e um número falso de telefone.

O surgimento do projeto foi discutido em fóruns de militantes, segundo a organização de vigilância SITE. Membros do Estado Islâmico pareciam desconfiar da empreitada. “Não há um site seguro, mesmo se de fato pertencer ao Estado Islâmico, porque os servidores são controlados pelos governos, que podem tomar todos os endereços de IP de quem visitou o site”, afirmava o usuário Taqni Minbar.