Estudando língua árabe no Egito

Diogo Bercito
A estudante Mariana Toledo, no Cairo para aprender árabe. Crédito Arquivo Pessoal
A estudante Mariana Toledo, no Cairo para aprender árabe. Crédito Arquivo Pessoal

Mês passado, no dia dos namorados, a estudante brasileira Mariana Toledo, 24, beijou na boca –a esfinge do Cairo. A foto, publicada no Facebook, era uma entre a longa série de imagens dessa jovem experimentando a cidade onde está há dois meses, em um curso intensivo de língua –árabe.

Me lembro de Toledo de quando, há anos, nos sentamos lado a lado em uma aula de árabe na Universidade de São Paulo. Fomos colegas, ali, e tenho acompanhado a distância sua aventura para aprender a língua. Aventura mesmo: ela interrompeu seus afazeres no Brasil por um semestre para, sozinha, morar na caótica capital egípcia.

A experiência está recompensando. Mas deixo que a própria estudante conte, aqui no Orientalíssimo blog, como está sendo esse seu semestre:

Mariana Toledo visita as pirâmides. Crédito Arquivo Pessoal
Mariana Toledo visita as pirâmides. Crédito Arquivo Pessoal

No início do meu segundo ano no curso de letras, depois de ter acabado de entrar na habilitação de árabe, me lembro de ter ouvido de alguém que um ocidental jamais entenderia a cabeça de um oriental.

Esse pensamento voltou à minha mente três anos depois, poucos dias antes de embarcar para minha viagem de intercâmbio ao Egito. Apesar da certeza de que essa seria uma oportunidade maravilhosa para minha carreira, me perguntei se eu seria capaz de mudar drasticamente meu modo de vida, comportamento e vestimenta para viver em um lugar tão culturalmente diferente do meu.

Sempre fui apaixonada pelo Egito e, devido à minha graduação, eu já estava bem familiarizada com seus hábitos e costumes. Mas isso não significava que eu não tinha alguns preconceitos que me faziam responder “não acho que vai ser fácil” sempre que alguém me perguntava sobre minha expectativa para a viagem.

O que eu descobri assim que cheguei foi totalmente inesperado: a vida aqui pode ser muito leve e divertida, eu não tenho que mudar drasticamente nenhum dos meus costumes e, principalmente, os egípcios são prestativos e atenciosos (e dividem o mesmo hábito festivo dos brasileiros).

Apenas dois meses se passaram desde a minha chegada e nem a diferença linguística e muito menos a cultural e religiosa se tornaram um problema na minha rotina. Aliás, digo que esses são alguns dos motivos que fazem eu me sentir em casa aqui.

Mais do que as 25 horas semanais que passo estudando árabe na sala de aula, é quando saio nas ruas que mais aprendo. E o aprendizado ao qual me refiro está sendo mais do que apenas um apanhado de novas palavras (apesar do dono da quitanda insistir em me ensinar o nome das frutas toda vez em que passo por lá), mas sim o aprendizado de novos valores e de uma nova noção de vida em comunidade.

Com os amigos muçulmanos que fiz aqui pude realmente compreender que o islã é uma religião que prega o amor e respeito ao próximo. Também sou responsável pelo bem estar dos que me rodeiam.

O tempo está me fazendo compreender a frase de que “um ocidental jamais entenderia a cabeça de um oriental”. Somos diferentes, sim, em muitos aspectos da maneira de pensar a vida. A sociedade e o espaço geográfico em que estamos têm grande influencia ao determinar o modo com que lidamos com as questões que implicam viver em sociedade. Mas, no final das contas, são as nossas semelhanças que nos unem e que nos aproximam.

Como todo bom hóspede (na minha opinião), temos que sempre seguir com o maior respeito as normas da casa. Mas, no que diz respeito a anfitriões, os egípcios estão entre os melhores.