O hino nacional do Estado Islâmico

Diogo Bercito
Raqqa, capital do Estado Islâmico. Crédito Reuters
Raqqa, capital do Estado Islâmico. Crédito Reuters

Não se parece muito com o nosso “brado retumbante”, mas o Estado Islâmico já tem sua própria versão de um hino nacional: o nashid “Minha comunidade, o amanhecer chegou”, em que é dito não que o califado é um “gigante pela própria natureza”, mas que foi criado “pelo sangue dos justos” e “pelo jihad dos pios”. O vídeo abaixo, analisado por uma reportagem do jornal britânico “Guardian” (clique aqui), traz o áudio do hino.

Há hoje na imprensa e na academia um receio compreensível quanto ao uso do nome “Estado Islâmico” para se referir ao auto-declarado califado estabelecido em uma região que toma parte da Síria e do Iraque. John Kerry, secretário de Estado americano, chegou a sugerir que a expressão dá ares de Estado e denigre a imagem do islã –mas a alternativa adotada, “Daesh”, é a abreviação para o mesmo nome e, assim, não parece ajudar (clique aqui para ler mais sobre o nome).

Em todo caso, alheio a essa discussão, o califado tem cada vez mais se comportado como um Estado. Para além do monopólio da força e da criação de instituições no território sob seu domínio, o Estado Islâmico divulga seu “hino” nas redes sociais, em vídeos de propaganda, nos campos de batalha e nas ruas de suas cidades por meio de carros com auto-falantes.

“Minha comunidade, o amanhecer chegou” foi composto em estilo de nashid –um gênero de canção árabe popular entre militantes. Por restrições religiosas, já que o uso de instrumentos é desencorajado por visões extremistas da tradição, o nashid costuma ser executado entre muçulmanos sunitas (o ramo majoritário no islã) apenas com vozes.

Não é novidade que um grupo extremista use a tática. Osama bin Laden, antes de liderar a Al-Qaeda, era parte de um grupo de nashid. Mas, de acordo com o “Guardian”, é inusitado o esforço do Estado Islâmico em compôr novas canções, em vez de reciclar antigas. Ao que parece, a organização terrorista conta com poetas e músicos por trás da produção, e não seria improvável haver colaboração dos ocidentais recém-chegados a suas fileiras.

É também recente, de acordo com uma reportagem do Euronews (clique aqui), a vantagem do uso da internet para a distribuição do material. Se antes o nashid circulava em fitas cassete, em meios restritos, hoje as canções são divulgadas em fóruns jihadistas aos milhares. “Eles estão tentando estabelecer Estados seguindo regras medievais, mas estão tirando vantagem da internet e de outras tecnologias de ponta”, diz ao site Peter Neumann, professor de estudos de segurança no King’s College de Londres.