“Unfriend” durante a guerra em Gaza
Não, desfazer amizades no Facebook em tempos de discussão política não é um fenômeno brasileiro –um estudo divulgado pelo “Times of Israel” (clique aqui para ler) mostra que também no Oriente Médio se rompem laços por divergência de opinião. Quase 20% dos usuários do Facebook em Israel apertaram o botão “unfriend” durante a guerra em Gaza. Especialmente aqueles com posições políticas extremas.
O estudo foi conduzido por Nicholas John, da Universidade Hebraica de Jerusalém, que afirma ter identificado esse fenômeno igualmente nas alas da direita e da esquerda, dependendo assim não da ideologia política, mas do nível de engajamento. Em entrevista ao “Times of Israel”, John diz que o fenômeno cria “câmaras de eco” e ambientes homogêneos em que as pessoas filtram os conteúdos de que discordam.
A “câmara de eco” me lembra de uma coisa que ouvi recentemente no Marrocos. Estive há uma semana em Marrakech para o seminário “Atlantic Dialogues”, durante o qual assisti a uma mesa com o brasileiro Ronaldo Lemos, colunista da Folha. Ele explicava ao público o uso do Facebook durante as eleições presidenciais deste ano, no Brasil. As pessoas têm na rede social uma impressão distorcida da realidade, disse Lemos, já que a página do Facebook é montada automaticamente de acordo com as suas preferências, e não proporcionalmente ao conteúdo existente (quem nunca ouviu alguém afirmar que não conhece ninguém que vote em fulano?).
John ouviu 1.013 usuários de Facebook para sua pesquisa, dez dias depois do cessar-fogo entre Israel e Hamas. A guerra entre ambos havia deixado o território de Gaza devastado (clique aqui para ler), além de mais de 2.000 mortos. Se vocês rolarem a leitura deste Orientalíssimo blog para alguns meses atrás, vão encontrar as minhas impressões sobre o conflito.
A disputa entre Israel e Hamas foi tema recorrente no Facebook naquele período, segundo o pesquisador, com aumento no engajamento político dos usuários da rede em Israel. Entre aqueles que desfizeram amizades durante o conflito, a maior parte era jovem. Para além dos que usaram o “unfriend”, 25% dos entrevistados pensaram em fazê-lo, mas mudaram de ideia.