Hollywood odeia os árabes
“Eu venho de uma terra, de um lugar distante, onde os camelos das caravanas vagueiam. Onde eles cortam a sua orelha se não gostarem do seu rosto. É bárbaro, mas, ei, é o lar.”
Quem, como eu, cresceu assistindo aos filmes da Disney dublados em português não teve a oportunidade de ouvir a versão original da música de abertura de Aladdin, que descreve o cenário árabe de Agrabah como um lugar em que bárbaros cortam a sua orelha se não gostarem do seu rosto. A letra, no Brasil, mencionava o deserto como paisagem “de orgias demais”.
Não se perdeu na tradução, porém, a cena em que Aladdin salva Jasmine de ter a mão cortada por um guarda disposto a lhe aplicar a severa lei contra ladrões –parte do que, no Ocidente, entendemos por “sharia”, ou “lei islâmica”. Depois de pegar uma maçã sem pagar, no mercado, Jasmine quase tem sua mão decepada.
Não me entendam mal. Adoro o filme. Mas assisti recentemente ao documentário “Reel Bad Arabs – How Hollywood Vilifies a People” (clique aqui para ir ao site oficial), e tenho de concordar com a tese: a indústria do cinema americano tem uma posição historicamente negativa em relação aos árabes ou, melhor, ao que eles entendem por “árabe”. O trailer está abaixo:
“Reel Bad Arabs” é a adaptação do livre de mesmo nome publicado por Jack Shaheen, professor americano de comunicação de massa. O documentário foi lançado em 2006, reunindo imagens de árabes como dançarinas do ventre, sultões ambiciosos e, é claro, terroristas.
De acordo com o site oficial, o filme “mostra como a persistência dessas imagens ao longo do tempo serviu para tornar naturais atitudes em relação aos árabes e à cultura árabe, reforçando no processo uma visão estreita dos indivíduos árabes e dos efeitos das políticas domésticas e internacionais americanas em suas vidas. […] O filme desafia espectadores a reconhecer a necessidade urgente por contra-narrativas que façam justiça à diversidade e humanidade do povo árabe e à realidade e riqueza de sua história e cultura.”