“A morte faz da minha alma um lençol”

Diogo Bercito
Samih al-Qasim durante evento na Casa Árabe de Madri.
Samih al-Qasim durante evento na Casa Árabe de Madri.

Morreu aos 75 anos, ontem, o poeta palestino Samih al-Qasim. Ele tinha câncer. Eu não conheço muito do trabalho dele, um escritor da minoria cultural drusa no norte do território israelense, mas me encantei com os poemas que li ao lado de seu obituário. De acordo com a agência de notícias palestina Maan (leia aqui), Qasim escreveu os seguintes versos na semana passada, em seu leito: “Não tenho amor por você, morte, e tampouco lhe temo. Mas você está fazendo de um corpo uma cama, e um lençol de minha alma”.

Qasim é considerado um “poeta da resistência”, essa curiosa categoria de autores que tratam da catástrofe humanitária em andamento nas últimas décadas na região, a partir da crítica da ocupação israelense. Mas, com a retomada ontem da guerra em Gaza, prefiro deixar aqui um de seus poemas sobre o inverso do conflito. A tradução é livre.

Bilhetes de viagem

Quando eu um dia for morto,

O assassino vai encontrar em meu bolso
bilhetes de viagem:
Um rumo à paz,
Um rumo aos campos e à chuva,
Um
Rumo à consciência dos seres humanos

Por favor, não desperdice os bilhetes
Meu caro assassino
Por favor, viaje

Abaixo, para os estudantes de árabe, o original:

تذاكر سفر

وعندما أٌقتَل في يومٍ من الأيام

سيَعثُر القاتل في جيبي
على تذاكِرِ السفر:
واحدة الى السلام
واحدة الى الحقول والمطر
واحدة
الى ضمائر البشر

ارجوك الّا تُهمِل التذاكر
يا قاتلي العزيز
ارجوك ان تسافر