Dois documentários mortíferos no Oriente Médio
Há histórias que nos devolvem a crença de que a vida sempre vence, como no poema de Walt Whitman que diz que mesmo “o menor dos brotos nos mostra que não existe morte” (clique aqui para ler o trecho inteiro). Um passarinho amarelo sobrevivendo à destruição de Shujaya, em Gaza, nos convence de alguma coisa sem nome. Como a flor que nasce no asfalto, no poema de Carlos Drummond de Andrade.
Mas há, também, os dias em que parece que estamos perdendo. Assisti, na semana passada, ao documentário da revista “Vice” sobre o Estado Islâmico erguido em um território mortífero em partes da Síria e do Iraque (assista no vídeo que abre este relato). Hoje pela manhã, vi as imagens da rede televisiva Al Jazeera sobre a guerra em Aleppo, no norte da Síria, onde estive há quatro anos, quando não se pensava em guerra e em morte ali (clique aqui para assistir).
Ambos os vídeos são importantes para que nós não nos esqueçamos do que o Oriente Médio tem visto, nos últimos anos, enquanto alternamos a nossa atenção entre as tantas tragédias globais, como a crise em Gaza e o surto de ebola na costa oeste africana. Assim, convido os leitores deste Orientalíssimo blog a prestigiar o trabalho dos repórteres da “Vice” e da Al Jazeera –também porque, como quem já esteve em campo, admiro a coragem dessas equipes em se aventurarem tão perto da foice.
O documentário da “Vice” é um material assustador sobre a vida em Raqqa, a capital do Estado Islâmico. A equipe da revista teve acesso a membros do califado e acompanhou, por exemplo, a polícia religiosa em uma patrulha pela cidade e visitou uma prisão. Esses islamitas, em outras ocasiões, sequestraram e sumiram com jornalistas em seu território, causando um apagão de informação. A coragem e o sucesso da missão da “Vice” requer loas.
Assim como o trabalho da Al Jazeera em Aleppo, no norte sírio, enquanto a bem da verdade a batalha naquela cidade tem sido esquecida em meio a tantos desastres. “Notas do Escuro” começa com uma aterrorizante viagem de carro, à noite, rumo ao campo de batalha, e trata nos primeiros minutos –com precisão– dos franco-atiradores transformados em criaturas temíveis, quase folclóricas, na cultura local. É o relato de 44 dias sob bombardeio, no verão passado.
Se algum de vocês tiver sugestões de outras produções áudio-visuais sobre a crise o Oriente Médio, por favor me enviem por e-mail (diogo.bercito@grupofolha.com.br) ou deixem um comentário aqui. Podemos dividir algumas recomendações na página do Orientalíssimo no Facebook –que, aliás, lhes convido a visitar clicado aqui.