Israel e os Estados árabes contra o Hamas
Esses são alguns dos dias do ano em que o mundo olha para o Oriente Médio, lhe entrega a sua opinião e volta a seus afazeres anteriores. A guerra em Gaza inundou meu Facebook e meu Twitter com os relatos mais variados sobre o conflito, com posições opostas — e parte delas baseada em conceitos equivocados. Um deles é a ideia de que existe um mundo árabe coeso e, do outro lado do espelho, o Estado de Israel.
A operação militar em Gaza e os esforços internacionais por um cessar-fogo, nas últimas semanas, mostram por outro lado que o que governa as posições no Oriente Médio não é necessariamente a fantasia de “árabes contra israelenses” ou “muçulmanos contra judeus”. A política é determinada, é claro, pelos interesses políticos.
Assim, o tabuleiro em Gaza está organizado de outra maneira. O Hamas, que diz representar a resistência palestina nesse estreito de terra, está sozinho. O Egito lidera –como mostra uma análise recente no “New York Times” (clique aqui para ler)– uma coalizão de Estados árabes que inclui Jordânia, Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos contra a facção militante. Israel tem a mesma posição. Há um tímido contraponto feito por Qatar e Turquia.
Esse não é um exemplo isolado. No ano passado, quando foi à ONU criticar o diálogo nuclear iraniano, o gabinete do premiê israelense Binyamin Netanyahu falava em nome do restante da região. Escrevi à época sobre esse alinhamento diplomático, por vezes feito silenciosamente, às escondidas da opinião pública (clique aqui para ler).
A coincidência de interesses entre Estados árabes e Israel, nota o “New York Times”, herda a posição comum deles contrária ao Irã — que, além de ter histórico de financiar o Hamas, disputa com as monarquias do Golfo o controle da política regional.
Israel e Egito concordam, afinal, em sua avaliação de que o islã político representado pelo Hamas é uma ameaça à região. O islã político é uma ideia que, para esses Estados, desestabiliza governos e regimes. A Irmandade Muçulmana experimentou esse projeto durante o ano de governo do islamita Mohammed Mursi. Não deu certo. O Exército depôs o presidente, no ano passado, e desde então lidera uma violenta perseguição a seus simpatizantes.
Não à toa moradores de Gaza se aproximavam de mim, nessa minha última passagem pelo estreito de terra, para agradecer o governo brasileiro pela condenação pública aos ataques israelenses, que já mataram mais de 1.400 pessoas ali. “O Brasil é melhor do que os países árabes, que não fazem nada”, me diziam.
O Egito, quando deu o tom do cessar-fogo entre Israel e Hamas, parecia na verdade atender mais às demandas israelenses do que às palestinas, avalia o “New York Times”. A Arábia Saudita imediatamente elogiou a mediação. “Israelenses, egípcios… São todos iguais”, lamentava a mim uma moradora de Gaza em um hospital, após um bombardeio na escola em que se refugiava.