Marcianos se perguntam: por que não há paz?

Diogo Bercito
Fumaça erguida após ataque israelense em Rafah, sul de Gaza. Crédito Said Khatib/AFP
Fumaça erguida após ataque israelense em Rafah, sul de Gaza. Crédito Said Khatib/AFP

Duas notícias vindas diretamente do Oriente Médio, com a substância contraditória típica da região: o jornal local “Haaretz” realiza uma conferência para discutir a paz; ao mesmo tempo, militantes palestinos disparam dezenas de foguetes contra Israel, que responde com ofensivas aéreas na faixa de Gaza. Presidentes pedem a paz, no encontro, enquanto um manifestante dá um soco nas costas do ministro da Economia israelense, Naftali Bennet.

O desenrolar dos eventos nos confunde. Mas eles devem ser ainda mais incompreensíveis a um espectador em Marte, pensa a autora canadense Margaret Atwood, em um artigo publicado no “Haaretz”. O texto original está disponível, em inglês, clicando aqui. Confiram o programa da conferência neste outro endereço, clicando aqui.

Atwood imagina, na alegoria, que os marcianos perguntem a três sábios terrestres por que, afinal, não existe paz no Oriente Médio. É a mesma pergunta que amigos brasileiros têm me feito, durante minha passagem pelo Brasil, nestes dias. Não sou sábio, como os personagens do texto publicado pelo “Haaretz”, então me custa responder. Mas as teorias que eles apresentam aos visitantes marcianos são curiosas.

Afinal, os extraterrestres se surpreendem com o fato de que todos na conferência afirmam querer a paz –mas ninguém oferece um caminho para tal. “Como pode ser que ninguém encontre uma maneira de realizar o que todos parecem querer?”, eles perguntam aos homens sábios.

O primeiro sábio lhe diz que, bem, nem todos querem a paz, já que o status quo lhes favorece. O segundo afirma que o obstáculo é o medo, já que os pacificadores egípcio Anwar Sadat e israelense Yitzhak Rabin foram mortos justamente por sonhar esse sonho. “Há muita história triste, aqui”, ele diz. E o terceiro sábio explica a situação de acordo com a geopolítica, a partir dos interesses das grandes potências internacionais, como Irã e Rússia.

Os marcianos se deprimem. Os sábios discutem entre si as possíveis soluções, que incluem casamentos entre as partes, para criar alianças políticas. Eles afirmam, também, que o ser humano carece de interesse por soluções de longo prazo. Ao que os visitantes, descontentes, se despedem e voltam ao espaço sideral.

“Todos nos desejam o bem”, reflete um dos sábios. Mas ainda não há paz.