O desafio de voar na cia aérea de Israel

Diogo Bercito

Já aconteceu com todo o mundo. Não é preciso ter vergonha de admitir. Você está lá e, de repente, se vê parte das estatísticas. Primeiro, pensa “Por que eu?“. Depois, “Quando vai acabar?”. Então aceita.

Voltei hoje de madrugada a Israel. Estava viajando, em meus dias de folga, por razões pessoais. Escolhi a passagem aérea mais adequada para os meus horários, o que significava voar com a companhia israelense El Al. Eu já sabia que a segurança seria reforçada, como é de praxe na empresa, mas achei que valeria o risco de ser interrogado. Agora repenso.

Começou com as perguntas de segurança antes do check in para o voo rumo a Israel, que se transformaram em um questionário de meia hora. Ao fim do qual me avisaram — você terá de passar pela inspeção secundária. O nome do procedimento é como uma maldição, entre quem viaja a Israel. Ninguém quer ser a pessoa que passou pela inspeção secundária.

O funcionário da segurança que me acompanhou ao subsolo do aeroporto disse que seriam cinco minutos. Veio conosco, também, outro viajante. Ironicamente, dono de uma empresa que fornece peças para os aviões da própria El Al. Ouvi o interrogatório dele, em que lhe perguntavam se ele havia “visitado um país que odeia Israel“, como “Egito e Marrocos”.

Conforme conversávamos, a história piorou. Ele tinha perdido seu voo original, no dia anterior, pelo atraso da tal inspeção secundária. Agora, estava preocupado em ter de passar outro dia sem viajar. Os cinco minutos se tornaram 1h30, sem que nos prestassem qualquer esclarecimento.

Sentados, observávamos funcionários da companhia abrirem todas as nossas bagagens. Passavam por ali também todas as malas que iriam embarcar no avião, em um desfile entediante. Um jovem com uma pistola fazia as vezes de segurança.

Sem passaporte, eu não podia sair dali. Me ofereceram chá, mas deve ter sido algum tipo de piada, porque os saquinhos estavam ao lado de um galão de água gelada. Li um jornal. Aos poucos, mais passageiros chegaram. Éramos mais de dez, e uma funcionária ironizou, “Não se preocupem, porque se voarmos sem vocês, o avião vai estar vazio“. Tomei nota.

Uma senhora, sentada à minha frente, parecia aterrorizada. Queria ver o que faziam com os seus pertences, que lhe foram tomados. Ninguém lhe explicava o procedimento. Então anunciaram o fim da inspeção secundária e nos acompanharam até dentro do avião, onde os demais passageiros nos aguardavam. O capitão desculpou-se pelo atraso de meia hora no voo, por “questões de segurança“.

A El Al (“aos céus”) foi inaugurada em 1948 para servir como linha aérea para Israel. Hoje, a frota tem 38 aeronaves. A companhia é conhecida pela segurança intensa em seus voos. Não à toa — houve uma série de tentativas de sequestro de seus aviões, incluindo um incidente em 2002. O voo 426 foi tomado em 1968, e seus passageiros, trocados por prisioneiros árabes.

Mas tenho ouvido crescentes reclamações de passageiros que, diante da perspectiva de serem submetidos a procedimentos invasivos (como mostrar mensagens pessoais no celular e no computador, como tive de fazer em outra ocasião), preferem trocar de companhia aérea. Ou, no caso de uma história que ouvi nesta semana, simplesmente não vir a Israel.

Algum dos leitores já teve a mesma má experiência?