Após a unificação palestina, Israel estuda sanções
Um dos leitores comentou, aqui, que não há ligação entre o antissemitismo na Europa e o governo de coalizão palestino. Mas aproveito a criação do governo de unidade entre as facções rivais Fatah e Hamas (leia aqui) para publicar o comunicado que acabo de receber do Gabinete de Segurança israelense, em que o premiê Binyamin Netanyahu fica autorizado a impôr sanções contra a Autoridade Nacional Palestina, visto que “se apoia no Hamas, uma organização terrorista que pede a destruição de Israel”.
Uma tradutora palestina com quem já trabalhei costuma imitar a fala do governo israelense repetindo a mesma palavra, “bitachon, bitachon, bitachon”. Segurança, segurança, segurança. Pelo que ela quer dizer que a política, aqui, costuma ser mais baseada na ideia de segurança do que na religião, ao contrário do que se supõe. O que, é claro, está aberto a debate. Mas fato é que o risco ao Estado de Israel e a seus cidadãos não é imaginado, como evidencia o tiroteio de Bruxelas, a despeito do que as ideologias puderem dizer para justificá-lo.
Dessa maneira, volto a trazer para o debate neste Orientalíssimo blog a relação que há entre todas essas notícias que vemos passar, diariamente, nos jornais. Se feitos com educação, todos os comentários vão ser bem recebidos aqui.
Abaixo, o anúncio do Gabinete de Segurança de Israel. A tradução é livre.
O Gabinete de Segurança, nesta tarde (segunda-feira, 2 de junho de 2014), decidiu com unanimidade:
1. Continuar a agir de acordo com sua decisão de 24 de abril de 2014 e não negociar com um governo palestino que se apoie no Hamas, uma organização terrorista que pede a destruição de Israel
2. Agir, incluindo na arena internacional, contra a participação de organizações terroristas em eleições
3. Autorizar o primeiro-ministro a impôr sanções adicionais à Autoridade Palestina
4. Considerar a Autoridade Palestina responsável por todas as ações que firam a segurança de Israel originadas da [Cisjordânia] e da faixa de Gaza
O premiê Netanyahu afirmou, também via comunicado, que “hoje, [o presidente palestino Mahmoud Abbas] disse ‘sim’ ao terrorismo e ‘não’ à paz”. “[Abbas] forjou um pacto com a organização Hamas, que é responsável pelo assassinato de mais de mil israelenses inocentes.”
A versão, segundo os palestinos, é outra. É a de que um governo palestino só terá legitimidade se representar todos os palestinos, e não parte deles. Desde 2007, a faixa de Gaza estava sob o controle do Hamas, enquanto o Fatah governava a Cisjordânia. Fazia, inclusive, parte do discurso de Israel a ideia de que não seria possível negociar a paz com Abbas porque ele não tinha um mandato em todo o território. Dessa maneira, parece contraditório que o presidente palestino tenha de governar ambas as regiões e ao mesmo tempo não possa fazê-lo.
Também faz parte da versão palestina que as negociações de paz são tarefa não das facções, e sim do governo, e assim não fará diferença em nível de decisão qual é a ideologia do Hamas. Afinal, o anúncio é de que o governo de unidade palestino mantém-se comprometido com a via diplomática e com os pontos anteriormente estabelecidos.
Por último, para finalizar o contraponto, precisamos também completar a explicação israelense de que as negociações de paz fracassaram devido à unificação entre Hamas e Fatah. Porque elas já vinham sendo demolidas também pela política de construção de assentamentos na Cisjordânia, apesar da crítica internacional, e pela recusa israelense em libertar prisioneiros palestinos, ao contrário do que tinha sido acordado anteriormente, na retomada do diálogo.
Assim, a questão volta ao “verdadeiro, falso, fictício”. Para vocês, como se escreve essa história?