Sugestões de leitura sobre o Oriente Médio

Diogo Bercito
Árvore de Natal em Nazaré, onde parte dos historiadores acredita que nasceu Jesus. Crédito Diogo Bercito/Folhapress
Árvore de Natal em Nazaré, onde parte dos historiadores acredita que nasceu Jesus. Crédito Diogo Bercito/Folhapress

Recebi, ontem, uma educada mensagem de um leitor que me pergunta como me informo sobre o Oriente Médio. Essa é uma dúvida recorrente, entre os leitores que se dão ao trabalho de me escrever, desde que inaugurei este Orientalíssimo blog, há mais de um ano. Onde buscar informações, como ter uma boa formação, em que confiar.

É uma dúvida difícil. Mesmo tendo interesse nesta região já há algum tempo, sou socrático quando preciso confessar que a cada livro que leio me dou conta do pouco que sei. Para nós, brasileiros, o Oriente Médio é uma terra familiar, porque ouvimos dizer que, na Bíblia, se fala de lugares como “Galileia” e “monte Gólgota”. Mas toda essa região é, também, externa ao que vivemos diariamente, e é preciso paciência e dedicação para realmente compreender essas informações.

Não existe uma referência única que, se lida, fará com que saibamos de imediato organizar e contextualizar o Oriente Médio. Só o tempo e, de certa maneira, as leituras feitas em todas as direções é que podem criar um chão onde pisar. Voltemos aos exemplos do parágrafo anterior, por um instante. “Galileia” é onde a tradição coloca Jesus Cristo, após seu nascimento, mas historiadores como Reza Aslan, em “Zealot” (clique aqui), notam que a ideia de que Cristo nasceu em Belém é posterior e reflete a ambição de concretizar uma profecia antiga.

O monte Gólgota é, como estudamos na catequese, o lugar onde Jesus teria sido crucificado. “Gólgota” parece vir do aramaico “lugar de uma caveira”, relacionado à raiz consonantal g-l-l, que em hebraico tornou-se “gulgoleth”. Não que a etimologia seja essencial. Mas será importante na discussão, entre católicos e protestantes, a respeito de qual é o ponto exato da crucificação de Cristo. Há, afinal, dois deles em Jerusalém, e ambos identificados no passado por montes que se pareciam com caveiras.

Não cito esses exemplos para desestimular os leitores, a partir da ideia de que seja inviável entender o Oriente Médio. Pelo contrário. Espero que a todos vocês seja possível abordar essa região não apenas pela paixão em relação à terra, mas também pela busca por conhecimento em si.

Para isso, publico abaixo uma lista de leituras que podem ajudar a ampliar a perspectiva de vocês. Em seguida, me prontifico a responder a dúvidas, por e-mail, e sugerir fontes específicas, desde que esteja a meu alcance. Vamos atualizar estas sugestões durante os próximos meses, juntos.

Parte das indicações está em inglês, mas há boa bibliografia disponível em português. Me perguntem, por favor, por outros nomes. Vocês também, por favor, escrevam aqui  nos comentários que outras áreas relacionadas ao Oriente Médio lhes interessam.

1 – História dos povos árabes

Vocês podem discordar. Mas eu acredito que qualquer análise a respeito do Oriente Médio feita sem uma boa base histórica será superficial. Assim, recomendo como leitura básica a obra do historiador Eugene Rogan — “The Arabs: a History” (clique aqui). Outro clássico, e com uma excelente visão analítica, é o “Uma História dos Povos Árabes”, de Albert Hourani (clique aqui).

2 – Religião

Inegável que a história médio-oriental está firmada em ideias religiosas, apesar de ter como base mais uma cultura regional do que a religião em si. A biografia de Maomé escrita por Karen Armstrong é excelente, por ter sido feita com esmero científico, mas a partir das narrativas tradicionais islâmicas (clique aqui). Mas será necessário, também, entender o que aconteceu com o islã após a morte do profeta — para isso, confiram o “After the Prophet”, de Lesley Hazleton (clique aqui). Por fim, a “biografia” da Bíblia, também escrita por Karen Armstrong, ajuda a entender como foi escrito o livro sagrado do cristianismo (clique aqui).

3 – Povo judeu

É um tópico delicado e de imensa bibliografia. Para este, vou pedir recomendações aos leitores. Mas, como base histórica, vale a pena conferir a narrativa de Flávio Josefo a respeito da destruição do templo de Jerusalém. Esse episódio marca toda a história dos judeus, nos últimos 2.000 anos, e a obra de Josefo é um dos documentos mais importantes desse período. Não conheço a tradução, mas encontrei uma versão em português (clique aqui).