A sabedoria econômica do falafel no Oriente Médio

Diogo Bercito

Minha casa está cheia, nesses dias. Duas colegas brasileiras estão de visita, conhecendo Jerusalém. Entre reportagens e as aulas de árabe e de hebraico, tento enxergar a cidade por meio dos olhos delas e me lembrar de como foi ver, pela primeira vez, a capital sagrada do Oriente Médio quando estive aqui a turismo há alguns anos.

Não apenas os monumentos e as ruínas. Ontem conversávamos sobre temas mais prosaicos, como o preço do falafel, o bolinho frito de grão de bico que de alguma maneira representa a culinária regional, recheando sanduíches de pão sírio ao redor do mundo. Elas haviam se impressionado com o preço do lanche, que, afinal, tem um baixo custo de produção. Além do quê, se é típico aqui, a lógica seria que fosse também barato aqui.

Não é.

Esbarrei por acaso, hoje, em uma reportagem da revista “Forbes” (clique aqui para ler) sobre o “índice falafel” –uma espécie de indicador que compara preços em diferentes países a partir de um produto específico, a exemplo do que já foi feito com o Big Mac em outras regiões. A medida também ajuda a entender, via estatística, quais são as moedas médio-orientais mais e menos valorizadas.

A conclusão é de que Israel, como nota hoje a imprensa local, tem uma das moedas mais excessivamente valorizadas na região, tendo tido o maior aumento de preços de alimentos de todos os países desenvolvidos desde 2005. É uma maneira de expressar, em números, o que nós aqui sentimos diariamente no supermercado quando deixamos de lado os conflitos regionais para fazer a nossa compra da semana.

Ao redor do mundo, essa medida é feita em termos de Big Mac, mas a revista “Forbes” nota que os preços do fast-food americano são muito mais altos do que os de uma refeição regular aqui. Além disso, o sanduíche com dois-hambúrgueres-alface-queijo-molho especial-cebola-pickles-pão com gergelim não é exatamente popular por aqui. O papel de refeição do dia a dia fica para o falafel. O índice foi sugerido em 2011 pela revista árabe “Majala”.

Além disso, o falafel é produzido em pequenos estabelecimentos comerciais e, assim, não tem tanta variação de custos como os de transporte. Por último, ele é cozinhado com ingredientes comuns em todo o Oriente Médio, como o pão, o tomate, o pepino e o tahine (pasta de gergelim).

Os gráficos da “Forbes”, é claro, não são sobre culinária. Eles dão indícios da inflação, do controle cambial, do poder de compra e do conflito civil. Para ler as conclusões do autor do texto, voltem à reportagem original –de onde tirei, também, a seguinte tabela de quantos sanduíches de falafel é possível comprar com US$ 10. Em Haifa, Israel, são dois. Em Gaza, 17.

Índice de falafel. Fonte: "Forbes"
Índice de falafel. Fonte: “Forbes”