Pessimistas, otimistas e a paz no Oriente Médio

Diogo Bercito

Ser jovem e recentemente instalado no Oriente Médio me garante o direito de, ao menos, dispensar os pessimistas que há meses vêm me dizendo que as negociações de paz vão inevitavelmente fracassar. “Já vimos essa história”, eles me dizem, citando as tentativas anteriores –e as décadas de discussões políticas que não resultaram no objetivo primeiro: a paz.

Eu não estava aqui nas negociações anteriores, e portanto ainda estou entre os otimistas (ingênuos, os pessimistas diriam). Também por pensar que a descrença age contra os esforços de John Kerry, secretário de Estado americano, e dos times de negociadores que têm se reunido às escondidas para chegar a um entendido a respeito da criação de um Estado palestino e do encerramento de todas as hostilidades.

Mas as notícias recentes não têm dado muita margem à esperança. A Organização para a Libertação da Palestina divulgou hoje, um dia após a visita do presidente Mahmoud Abbas aos EUA, um relatório em que acusa Israel de agir contra a paz por meio de um rol de violações aos direitos humanos.

No estudo, sob o título “Inviabilizando os Esforços Americanos pela Paz”, as autoridades palestinas afirmam que Israel foi o responsável nos últimos meses pela morte de 56 palestinos e por deixar outros 897 feridos.

A divulgação do relatório coincide com os esforços dos negociadores em prolongar as conversas pela paz para além do limite anteriormente estabelecido, que expira em abril. Há receio, porém, de que o desgaste entre ambas as partes descarrilhe as negociações. As autoridades palestinas também acusam Israel, no relatório, de prisões, demolições e violência por parte de colonos.

Israel, por sua vez, afirma que há uma escalada na violência contra civis israelenses, com 167 feridos e 66 ações terroristas durante 2013. Uma fonte militar me disse, hoje, que “a Autoridade Nacional Palestina não condenou publicamente nenhum desses atos de violência”, o que também não contribui para o sucesso das negociações, ao dar a impressão de que as ações violentas são chanceladas pela Presidência.

A vocês, leitores deste Orientalíssimo blog, a pergunta: quais de vocês são, também, otimistas?