A cartografia do primeiro Orientalíssimo ano
Ainda me lembro das noites depois de ser convidado para assumir o posto de correspondente internacional da Folha no Oriente Médio. Deitado, mas sem sono, eu pensava em como seriam meus primeiros dias, meus primeiros meses nesta região que há muito me interessava. Que histórias eu iria narrar aos meus leitores? Que países, que vilarejos eu visitaria? Quais seriam os percalços, as revoluções, e quais seriam as montanhas no horizonte, as brumas, a areia do deserto em uma tempestade de vento.
Há um ano, desembarquei no meio da noite em uma ruela jerosolimita para começar um trabalho que seria ainda mais interessante do que eu imaginava. Afinal, naquelas noites sem dormir, eu não poderia saber que viajaria ao Iêmen, um dos países mais miseráveis do mundo, para aceitar o café oferecido por Naser al-Awlaki, pai do clérigo Anwar al-Awlaki, morto por um drone (avião não tripulado) norte-americano.
Também não poderia saber que, no Líbano, teria de aceitar o cigarro imposto pela organização xiita Hizbullah enquanto homens armados vasculhavam meu computador e meu telefone celular em busca de informações. Ou que, na Jordânia, visitaria um dos maiores campos de refugiados do mundo, conversando com jovens sírios cujos sonhos, hoje, incluem voltar armados a suas casas e depôr o ditador Bashar al-Assad.
Uma caverna ao sul de Hebron, uma base militar na fronteira norte de Israel, um batalhão com maioria feminina, uma igreja copta queimada no interior do Egito. Foram meses difíceis. Aqui, no Oriente Médio, as notícias às vezes são violentas. Mas são também histórias cotidianas, como a do jovem palestino que abriu um albergue em Ramallah ou a dos evangélicos brasileiros que sobem o monte Hermon para celebrar a transfiguração de Jesus Cristo.
Conversamos bastante, aqui. Agradeço em especial aos leitores frequentes, que contribuíram para o diálogo. Os ânimos se exaltaram, mas é natural. Essa região, não à toa apelidada Terra Santa, é cara a muitos de nós. Ao que aproveito para perguntar-lhes: como vocês avaliam este primeiro ano de Orientalíssimo e o que esperam dos meses que estão por vir?
Enquanto pensam nisto, espero que aceitem meu convite para clicar no mapa acima e navegar pela cartografia das principais viagens deste blog ao redor da região. Se vocês clicarem nos indicadores azuis, podem reler as histórias que contei nesses lugares. São algumas delas:
[ISRAEL, CISJORDÂNIA E GAZA]
JERUSALEM
Entrevista com o presidente de Israel, Shimon Peres
TEL AVIV
Entrevista com o escritor Etgar Keret
NAZARÉ
Reportagem de Natal sobre a viagem de Maria
BELÉM
Entrevista com Isaa Qaraqa, ministro palestino de prisioneiros
HEBRON
Perfil de Sarah Nawajah, beduína que vive em uma caverna ao sul de Hebron
HABLEH
Reportagem sobre palestinos que entram em Israel por túneis de esgoto
GAZA
Análise sobre como o bloqueio israelense afeta preços e produtos na faixa de Gaza
GUSH ETZION
Curso de tiro para turistas, em assentamento israelense
SAFED
Conversa com crianças sírias tratadas em um hospital israelense
PALMACHIM
Visita à base área em que drones israelenses são controlados
BILIN
Reportagem sobre jardim palestino plantado em granadas de gás lacrimogêneo
NABI SHUAIB
Investigação sobre a crença drusa e sobre suas atividades no Exército
SDEROT
Visita ao túnel terrorista cavado entre Gaza e Israel
RAMALLAH
Entrevista com os empresários palestinos que abriram o primeiro albergue da região
MUSHIRFA
Investigação sobre árabes-israelenses que viajam à Síria para o jihad
HAR KEREN
Reportagem sobre batalhão do Exército israelense com 60% de mulheres
VALE DO JORDÃO
Análise sobre os assentamentos israelenses na fronteira com a Jordânia
MAJDAL SHAMS
Visita à região de fronteira entre Israel e Síria, com população drusa
MONTE HERMON
Reportagem sobre o turismo evangélico brasileiro no norte de Israel
NABLUS
Entrevista com médico palestino que contrabandeia sêmen de prisioneiros
KIRYAT LUZA
Perfil de uma das últimas vilas samaritanas no mundo
ROSH HANIKRA
Visita a base militar israelense na fronteira com o Líbano
HERZLIYA
Entrevista com Yossi Beilin, um dos arquitetos dos Acordos de Oslo
[LÍBANO]
BEIRUTE
Reportagem sobre atentado terrorista, detido pelo Hizbullah
MAJDAL SILEM
Entrevista com a família da brasileira Malak Zahwe, que morreu em um atentado
[EGITO]
CAIRO
Cobertura do golpe militar que derrubou Mohammed Mursi da Presidência
FAYUM
Visita a igrejas destruídas por islamitas no interior egípcio
[IÊMEN]
SANAA
Entrevista com familiares de vítimas da política americana de drones (aviões não tripulados)
ÁDEN
Reportagem sobre movimento separatista no sul do país
[JORDÂNIA]
ZAATARI
Visita ao campo de refugiados sírios no norte jordaniano
Acompanho o blog há 2 meses e só posso dizer que, até onde vi, está excelente!
Continue nos brindando com excelentes histórias, principalmente aquelas do cotidiano muitas vezes ignorados por nós mas que são capazes de explicar questões muito mais importates.
Saudações,
Hussein
Parabéns.
Estou levando para a Bienal da Bahia, a convite de um artista participante, um objeto-performance intitulado, coincidentemente: “Se Oriente”. Esse objeto tem o intuito de propor ao público espectador questionamentos de tamaticas contemporâneas, desde o olhar para outras direções.
Diego, parabéns pelo blog e pelo seu trabalho fantástico. Faço minhas as palavras do Hussein, pois seus relatos do cotidiano são muito enriquecedores e nos permitem enxergar os detalhes da região com cores mais vibrantes e com mais nuances.
Desculpe, Diogo, chamei você de Diego novamente…
Diogo,
Li todas suas postagens e reportagens na Folha (sou assinante há anos), suas e do Samy, em Terrã, desde o primeiro dia dos blogs, sou sociologo da religião e acompanho com muito interesse esses temas. Não diria que gostaria de estar em seu lugar, por que, primeiro não tenho sua preparação jornalistica; segundo, prefiro pesquisar na segurança da minha sala do que, como voce tem jeito, no olho do furação. Quando o vi voar para o Egito e Ucrânia recentemente, fiquei imaginando como sua sua mãe ou esposa se sentiu… Parabéns a Folha por mante-lo, mas parabéns principalmente a você pelo trabalho que tem feito.
Se me permite uma crítica,nos assuntos referentes ao Oriente Médio,lembrarei o que disse no meu primeiro post sobre a Síria de que sinto falta no Brasil de jornalistas promissores como vc fazendo a diferença seguindo a linha de um Seymour Hersh e de uma Mariângela Berquó para ficar apenas nos dois.No mais,desejo sucesso!
excelente blog, um dos melhores do jornalismo internacional brasileiro hoje. excelente pelos assuntos óbvios cobertos (guerras, golpes, etc), como também pelos assuntos cotidianos, como suas viagens. Parabéns!!!
Parabéns Diogo, sucesso do Blog, boa sorte que siga assim!
Insha Allah.
Infelizmente escolhi outra carreira, mas seria um sonho viver viajando e conhecendo.
Diogo, vá em frente com seu trabalho. Tem boa qualidade. Parabéns…
Caro Diogo,
Recentemente sumi dos comentários de seus posts. A vida acadêmica que levo (ao custo de uma saudade constante de tudo o que você faz) me manteve no escritório, esse espaço que faz as vezes de bunker para os estudiosos, um pouco frustrados pela distância, do Oriente Médio.
Li seu último post. Nele também havia algo que sempre me compele a deixar um comentário: um convite a te responder, a fazer parte da sua experiência. Abandonei o que fazia e li todos os outros posts que estavam guardados para um momento, ironicamente, de paz.
Da minha mesa com um privilegiado horizonte verde, fui catapultada para cada ruela milenar, cada expressão facial que você tentou analisar, cada narrativa que você ouviu e percebeu algo escondido na escolha lexical.
Obrigada por me aproximar – quase que sensorialmente – do meu objeto.
Boa sorte,
Maria Rita