“Em um bom Holocausto”, um acordo iraniano

Diogo Bercito

Assim como no Brasil, a internet israelense está repleta de piadas virais a respeito da política local. São imagens e frases de impacto que circulam entre os sortudos que leem com fluência em hebraico –ou aqueles que, como eu, têm amigos para ajudar na tradução.

O trocadilho de maior efeito ontem, entre diversos, comparava o acordo assinado entre Irã e potências ocidentais com o genocídio de seis milhões de judeus. Em vez da frase tradicional “be shaah tovah” (“em boa hora”), internautas escreviam “be shoah tovah“, “em bom holocausto”.

Os termos do que foi decidido entre o Irã e os P5+1 (EUA, China, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha) a princípio diz respeito a esses países. Mas o desenvolvimento do programa nuclear iraniano, que Israel crê ter fins bélicos, é no final do dia também um assunto israelense.

Em primeiro lugar, porque traz ao governo e à população a sombra de uma nova ameaça de extinção, a partir da narrativa de que o Estado iraniano tem por objetivo eliminar Israel do mapa. Mas também porque a diplomacia israelense, e em especial o governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, têm se apresentado como a solução para impedir o Irã de ter um arsenal nuclear.

Com o acordo assinado em Genebra, aliviando as sanções internacionais e dando conta da possibilidade de saída negociada, a coalizão atual perde de certa maneira uma de suas prerrogativas. Pior do que isso — após ter se isolado da comunidade internacional, tendo por aliados Arábia Saudita e países do Golfo, Israel agora encara o fato de que sua ofensiva diplomática só serviu para desgastar as relações com os EUA, sem resultados em termos de estrangular a economia iraniana e manter a bomba atômica como um distante sonho persa.

Crédito Editoria de Arte/Folhapress

Eu frequentemente critico a mídia israelense, principalmente por me surpreender com como uma equipe de repórteres pode viver nesta terra fértil em notícias e, ainda assim, produzir um jornal desinteressante. Mas a edição de hoje do “Haaretz” está excepcionalmente rica, em termos de análises e diferentes pontos de vista a respeito do acordo iraniano. Recomendo a leitura, e indico também, como contraponto, ler o “Jerusalem Post”, que entre textos tendenciosos abre seu caderno opinativo com uma citação sobre o Holocausto.

Ao que voltamos ao início deste relato. Retornamos a como um acordo assinado em Genebra entre potências europeias, os EUA e o Irã pode impactar Israel, tanto simbolicamente quanto em termos reais. Pois talvez seja possível argumentarmos que um Irã nuclear é também danoso à Arábia Saudita, espada do sunismo e desafeto da nação persa — mas, por lá, o programa nuclear iraniano não é visto como ameaça existencial, e sim como perda de terreno nas esferas de influência regionais. São apenas narrativas diferentes, ou experiências diversas?

Fato é que, como escreveu Ian Black no jornal britânico “Guardian” (veja tradução da Folha aqui), o pacto iraniano deve alterar as relações no Oriente Médio. Um trecho:

Ainda é cedo para saber se o acordo nuclear selado em Genebra prenuncia uma fase nova na teia de relações entre o Ocidente, Irã, Israel e os árabes. Mas as reações iniciais sugerem que é um passo importante e que possui o potencial de mudar o status quo vigente há 30 anos.

Quando a notícia dramática chegou da Suíça, já era manhã em Teerã, Riad e Jerusalém, de modo que as primeiras horas do domingo ecoaram com o rugido de um deslocamento tectônico no Oriente Médio -e da corrida de vários governos para decidir qual seria sua resposta.

A hostilidade mútua entre Irã e EUA formou o pano de fundo do que aconteceu desde a grande ruptura de 1979, quando um ditador pró-americano foi deposto pela Revolução Islâmica, até a pior crise atual no Oriente Médio, a devastadora guerra na Síria.

Agora, pergunto aos leitores — o que vocês pensam sobre o acordo interino estabelecido com o Irã, no que diz respeito a Israel?

Comentários

  1. Israel está em péssima fase diplomática, todos enxergam a cúpula do poder israelense como petulante e de um discurso bélico muito forte, enquanto o Irã ignora Israel atualmente em prol dos seus objetivos Israel se preocupa demais com seu quase vizinho.
    Talvez se a diplomacia israelense utiliza-se de outros caminhos talvez seria muito mais bem sucedida

  2. Por não considerar o regime de Israel melhor que o do Irã nem em princípios,atos,políticas e intenções vou desconsiderar em minha análise comparações com Hitler,discriminação,etc. que é feita pelos algozes de ambos levando em conta apenas os interesses que eu julgo estarem envolvidos.
    Isso posto,vamos lá:

    – “sem resultados em termos de estrangular a economia iraniana e manter a bomba atômica como um distante sonho persa”.Aqui eu discordo fazendo coro com aqueles que acreditam que as sanções é que empurrariam, até mesmo pelo instinto de sobrevivência doregime,o Irã para armas nucleares.
    – O Irã teria a temer muito mais a um Israel já nuclear do que Israel temer o Irã com ambos tendo as armas,afinal loucura por loucura um perdexperde é menos ruim do que um
    ganha(Israel)xperde já que o ideal de ambos não nucleares é impossível.
    – Como expressado por mim em posts anteriores a política israelense tem sido um equívoco desde a sua existência e ela tem se mostrado mais evidente a partir do conflito sírio quando o forte lobby sionista mostrou à que veio e por pouco não leva Obama pra uma guerra insana na Síria e agora no caso do Irã obtendo duas derrotas políticas importantes em uma região onde Irã quer ser reconhecida como uma potência econômica,militar e política e Israel parecendo ter um complexo de Narciso querendo ser o único dono do pedaço e por isso ratifico hoje de forma mais contundente o que já disse em posts anteriores a quem interessar possa para prepararem as pipocas porque o show está apenas começando.
    – Finalizo compartilhando uma impressão que registrei um ano atrás em um post de que o verdadeiro perigo a existência de Israel não vem de fora não,ela se encontra dentro da própria casa e entendo que quem está dentro dela não compreenda o sentido disso.
    P.S.:Abro um parêntese pra comentar sobre o que muitos se perguntam por que da birra Irã-Israel?Não teria nenhuma se não fosse pelo conhecido modus operandi sionista relatado pelo jornalista Scott Peterson considerado um dos maiores especialistas do Ocidente nos assuntos relacionados ao Irã que em seu best-seller “Let the Swords Encircle Me” em uma de suas passagens ele diz que:
    “Nos anos após a Revolução Iraniana em 1979 Israel não deu importância aos desenvolvimentos no Irã,mas isso mudou com a queda da União Soviética em 1991.Visto que, a sua estratégia de focar sobre os países árabes alinhados com os soviéticos estava perdendo sua importância após a guerra fria ,Israel lançou uma campanha em 1992 para convencer os US que uma ameaça nova e mais perigosa tinha emergido do Irã “.

  3. Prezado Diogo,
    acredito que suas informações omitidas em relação ao Irã e suas constantes ameaças contra Israel devem ser por falta de mídias “não tendenciosas” como o Jerusalém Post referido.

    Algumas das manchetes internacionais deste ano :

    “Israeli regime, this sinister, unclean rabid dog of the region, says Iran is a threat to the world; No! Israel itself is a threat to the world”.Ayatollah khamenei, November 20, 2013.
    “We consider the Zionist regime illegitimate and bastard. It is a regime which has been established based on conspiracy and is being maintained and guarded based on conspiracy and conspiratorial policies”.Ayatollah Khamenei in a meeting with students, November 3, 2013
    “Khamenei fala em ‘fim de Israel’ no dia em que Irã e potências retomam diálogo”,Ayatollah khamenei, 20 de Novembro de 2013.
    “Aiatolá Khamenei: Tel Aviv e Haiva serão aniquiladas se Israel atacar o Irã”.Em março de 2013.
    Aiatolá Khamenei: “Matem todos os judeus, aniquilem Israel “.”Irã expõe argumento legal para desferir ataque genocida contra “tumor cancerígeno”. O governo iraniano, por meio de um site autorizado (Alef), expôs a justificativa legal e religiosa para destruir Israel e matar seu povo.A doutrina inclui a eliminação de assentamentos israelenses e dos judeus ao redor do mundo”.
    O artigo, escrito por Alireza Forghani, um analista e especialista em estratégia no campo do aiatolá Khamenei, já foi divulgado na maioria dos sites estatais iranianos, incluindo a agência Fars News, da Guarda Revolucionária, mostrando que o regime endossa a doutrina. Em, setembro de 2013.

    Finalizando e dando um tom mais alegre às boas intenções iranianas em relação à Israel, uma animação que simula um ataque do Irã às cidades israelenses e outros alvos civis e militares ( http://www.breakingisraelnews.com/iran-broadcasts-animated-nuclear-strike-israel/?utm_source=Breaking+Israel+News&utm_campaign=29444d047f-BIN+Email&utm_medium=email&utm_term=0_b6d3627f72-29444d047f-83512833 ).

    Pode checar todas as informações, estão inclusive em sites de notícias e do governo iranianos.
    Um abraço, Luiz.

  4. O fim do império Otomano e a ideia estapafurdia de criar uma nação para reparar danos da segunda grande guerra geram um único, pequeno e imenso problema chamado Israel. Na se conserta erros daquela guerra ocupando terras que tradicoes dizem ser suas. Imaginem se todos os indigenas brasileiros tambem quererem reclamar terras antigas em lugares como SP capital, Rio e por ai vai…

    1. Rafael Lanza,
      você poderia nos dar uma aula sobre em que lugar do mundo haveriam “tradições” (?) que vinculassem “terras” com o povo judeu.
      A Palestina ( já foi Judéia, sabias ) foi dividida e esta divisão, não aceita pelos árabes, deu origem às guerras e conflitos sem fim.
      E por falar nisto, o que é isso tem a ver com o acordo iraniano ????
      “Obs. : ” Imaginem se todos os indigenas brasileiros tambem quererem reclamar terras antigas em lugares como SP capital, Rio e por ai vai…” .
      Não imagine. Os índios tem muitas terras próprias e outras em litígio. Você é contra ? Porque ?
      Um abraço, Luiz.

    2. Rafael, ignorancia doi. Leia um pouco historia e aprenderas. Ja em 1917, muito antes do Holocausto, o imperio britanico lancou um manifesto favoravel a um Lar Nacional Judeu na Palestina,que estava sob o dominio ingles. Leia a Biblia e saberas de onde vem o povo judeu.

  5. Dizer que Israel foi criada para “reparar danos da 2ª Guerra Mundial” é uma falácia das mais desgastadas, apenas mais uma na tentativa entre tantas (e todas inúteis) de denegrir o Estado de Israel. Os judeus iniciaram o retorno à sua terra de origem quase um século antes desses eventos e ali se juntaram a outras comunidades judaicas já existentes na região desde séculos atrás. Quanto aos xiitas do Irã e do Líbano, pregam a destruição de Israel sim e o país hebreu não pode descuidar de jeito nenhum. Os extremistas do Irã e do sul do Líbano são todos bonzinhos e pacíficos e apenas esperam que Israel abaixe a guarda.

    1. Meu Deus, finalmente um comentário dissonante da velha lengalenga de que Israel é um estado opressor, ocupante, que os sionistas são maus e etc…
      Essa galera ai que defende um Irã nuclear precisa levar um choque de realismo pra se tocar que sim, foram e são feitas ameaças à existência de Israel. Negar isso é falta de conexão com a realidade ou mau-caratismo mesmo.

  6. Prezado diogo. gosto muito de ler seu artigo, apesar de você estar em israel seu comentário não é tendencioso. Quanto a situação do acordo Irã e potências Europeias e EUA. Espero que este acordo venha abrir na República Islâmica do Irã uma porta de entendimento entre as nações, que eles entendam de uma vez por todas que a existência do Estado de Israel é um fato histórico, após uma diáspora forçada pelos seus algozes invasores. O retorno é uma promessa do Eterno e o cumprimento desta, confirma a existência desta nação. Que a pérsia sempre perseguiu Israel isso está na história, por isso, a preocupação de Israel em proteger-se. Porém, devemos dar lugar a paz e ao entendimento, com líderes sábios como foi o Rei Salomão que no seu reinado houve Paz durante Quarenta anos em israel. Um abraço a todos. Shalom. Paz. Pr. dr. William Carneiro.

  7. Fico muito contente com o acordo Iraniano e também com a possibilidade de uma vida mais prosperaras para o povo daquele país. Não vejo a mídia noticiando os benefícios para população do Irã, a grande preocupação com Israel, precisamos dar menos ênfase aos judeus.
    Único assunto que me interessa com judeus, é quando vão voltar a fornecer combustível para os palestinos retirarem o esgoto das ruas, quando vão parar com os assentamentos, quando vão parar de cortar as oliveiras das terras de palestinos, ou quando vão ser menos terroristas quanto aos terroristas.

    1. Yasser,
      até você, provavelmente, deves saber as respostas aos seus “quandos”.
      Quando o hamas deixar de lançar contra Israel seus foguetes. Quando parar de gastar toneladas de cimento na construção de túneis para atacar território israelense. E quando, etc..etc…e tal.

      Quanto ao combustível e esgoto, saiba o porque do não sei quando:
      ” O porta-voz do governo do Hamas em Gaza, Ihab Ghussein, disse neste domingo que o governo rival na Cisjordânia interrompeu a transferência de combustível para Gaza porque o governo da região não pagou um novo imposto. O Hamas disse que não pode pagar a taxa.
      Nos últimos meses, o Egito fechou túneis de contrabando ao longo da fronteira de Gaza que forneciam combustível para o território palestino. O Egito também suspendeu as transferências do combustível financiado pelo Qatar por causa de ataques de militantes contra as forças de segurança egípcias na península do Sinai. As transferências de combustível israelense mais caro continuam.
      Os cortes de energia elétrica em Gaza duram agora 12 horas por causa da escassez de combustível”. Em https://s.exame.abril.com.br/mundo/noticias/gaza-enfrenta-falta-de-energia-eletrica e várias outras mídias.

      1. Embora alguns dirigentes iranianos sejam antissemitas, a política de Teerã é anti-Israel, não antijudeus. O Irã considera Israel um Estado ilegítimo e defende o seu desaparecimento. Mas iranianos nunca disseram que fariam algo para causar esse desaparecimento. Pode parecer preciosismo, mas a natureza do recado iraniano é importante de se entender. Na visão iraniana, Israel é uma entidade fadada ao colapso naturalmente, como foi a União Soviética. Além disso, lembre-se que Israel apoiou o Irã de Khomeini na guerra contra o Iraque. O pesquisador e analista americano-iraniano Trita Parsi escreveu um livro sobre o jogo dúbio entre iranianos e israelenses nos anos 1980. Há quem diga, ainda, que Israel está tão apavorado com o ensaio de reaproximação EUA-Irã por temer perder a posição de parceiro número um na região. Afinal, essa posição era ocupada pelo Irã até 1979, e alguns analistas dizem que Teerã tem, ao menos em tese, muito mais a oferecer do que Israel (recursos, mercado interno, alcance regional etc). O extremismo religioso de alguns setores não representa um obstáculo em si, já que Washington apoia a Arábia Saudita, o país islâmico mais radical em todo o mundo. hahaha e tu preocupado com Irã, exatamente como os sauditas querem.

  8. Enquanto Israel não se sentir seguro, vivendo entre povos que querem sua destruição, não haverá paz nesta região do mundo. Acredito que uma frase dita por todos os inimigos resolveria o problema da região. ” Reconhecemos o Estado judaico de Israel”.

    1. “Reconhecemos o Estado judaico de Israel”.Se o problema for esse então os problemas da região já estão resolvidos pois que:
      -Em 2002 a Liga Árabe propos o reconhecimento conjunto de Israel nas fronteiras de 67.O plano de paz estipulava ainda “uma regulamentação justa do problema dos refugiados palestinianos conforme a resolução 194 da Assembleia Geral da ONU”.

      A cimeira terminou apelando “ao Governo e a todos os israelenses” que aceitassem a iniciativa, “para proteger as hipóteses de paz, acabar com o derramamento de sangue e permitir aos países árabes e a Israel viverem em paz, lado a lado”.
      Em 2005 a Liga ratifica a intenção.
      Mas TODAS ignoradas por Israel.

  9. A Liga Árabe adota duas opções em relação à Israel.
    A primeira a pura e simples recusa em reconhecer o estabelecimento do Estado de Israel como um Estado judaico no OM, recusa esta, em vigência há décadas e nunca retirada. .
    A segunda, tornar inviável o Estado de Israel com fronteiras totalmente inseguras e ainda querendo o retorno de milhares de “refugiados” para dentro de território israelense, significando o total colapso do Estado israelense.
    “Liga Árabe reitera recusa em reconhecer Israel como Estado judeu”. http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,liga-arabe-reitera-recusa-em-reconhecer-israel-como-estado-judeu,611012,0.htm.
    “Países árabes oferecem inédito reconhecimento do Estado judeu”em troca, Israel deve se retirar de territórios ocupados e aceitar refugiados”.http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1546788-5602,00-LIGA+ARABE+CONDICIONA+NEGOCIACOES+A+SUSPENSAO+DE+ASSENTAMENTOS+EM+JERUSALEM.html.

    1. Caro Luiz, ambas as notícias são de 2010. A segunda, de março, mostra a disposição da Liga Árabe em reconhecer Israel com as condições de um retorno às fronteiras de 1967 e a absorção de refugiados – concordo, condições extremamente delicadas, que são justamente o cerne do processo de paz. Essa proposta de reconhecimento existe desde 2002.

      A outra, de setembro, mostra que a Liga Árabe não concordou em ceder a um reconhecimento durante a rodada de negociações de 2010, pois justamente nessa época estava para vencer o prazo do congelamento de novos assentamentos na Cisjordânia, e já havia um plano de expansão de 1600 novas casas para os colonos, só esperando esse congelamento acabar. Eu já falei antes e repito, a expansão das colônias é um tapa na cara dos palestinos, e não condiz com a postura de quem realmente busca a paz.

      Pois bem, você diz que a Liga pretende “tornar inviável o Estado de Israel com fronteiras totalmente inseguras”. Para começo de conversa, quais são as fronteiras de Israel? Gaza E Cisjordânia são território israelense? Voltar às fronteiras de 1967 tornaria o Estado de Israel inviável? E tornaria suas fronteiras inseguras? As fronteiras de hoje (quaisquer que sejam) são seguras?

      Outra coisa que você menciona é a absorção de refugiados palestinos, que significaria, segundo você, “o total colapso do Estado israelense”. Eu sei que o tema é complexo e delicado, mas acho que você quis dizer “o total colapso do caráter judaico de Israel”. O direito de retorno dos palestinos é, ao meu ver, uma reivindicação justa, mas que traz uma série de complicações. Alguns vilarejos foram destruídos, alguns repovoados, alguns tiveram outras coisas construídas sobre suas ruínas. Por isso, acho que o mais razoável seria se oferecer vultuosas indenizações como opção. Mas esse é um ponto tão difícil que eu não tenho nem idéia de como irá se resolver.

      No entanto, eu acho que enquanto Israel continuar expandindo as colônias na Cisjordânia, o processo de paz nunca irá caminhar.

      1. beto_w,
        “Gaza E Cisjordânia são território israelense? Gaza ??.
        “As fronteiras de hoje (quaisquer que sejam) são seguras? Sim ,muito mais seguras. A drástica diminuição dos ataques terroristas vindos da Cisjordânia são números irrefutáveis.
        “o total colapso do caráter judaico de Israel”, você, que se diz judeu, é que poderia melhor nos explicar o que seria- “caráter judaico de Israel”, em contrapartida ao que eu afirmei-“total colapso do Estado israelense”.
        ” O direito de retorno dos palestinos “, você sabe por acaso qual a diferença na conceituação de refugiados ( todos os outros do mundo afora) da dos refugiados palestinos ?
        Você consideraria possível o retorno dos milhares de refugiados ( seus descendentes ) judeus aos países árabes, dos quais foram obrigados à sair com as calças nas mãos após 1948. Judeus estes, com séculos de vida comprovadas nestes países, diferentemente, de uma parte não especificada e mensurável dos que hoje se denominam ou se dizem refugiados palestinos.
        Você teria considerado o egípcio Arafat como um exemplo típico de um verdadeiro refugiado palestino ?

        1. Luiz, você se esquivou de responder minha primeira pergunta – quais são, para você, as fronteiras de Israel? Pelo jeito você concorda que Gaza não é território israelense, mas e a Cisjordânia? E o Golan?

          Quando eu perguntei se você acha as fronteiras de hoje seguras, eu quis dizer comparando-se com as fronteiras pré-1967, já que você afirma que um dos planos da Liga Árabe é “tornar inviável o Estado de Israel com fronteiras totalmente inseguras”. Se você menciona a diminuição de ataques terroristas vindos da Cisjordânia, se refere aos últimos anos. Então, mesmo com a ocupação da Cisjordânia, as fronteiras não eram seguras.

          Quanto ao colapso do estado ou do seu caráter judaico, a diferença está em o país não mais existir em oposição a o país não mais ser um estado judeu e sim um estado laico. Eu concordo que é uma questão difícil, eu mesmo já discuti muito o assunto e anida não tenho opinião formada. Mas o que sei é que a resistência de muitos ao retorno dos palestinos é o receio de que eles, em maior número, consigam eleger um número dominante de representantes no parlamento, e comecem a passar legislações que removam pouco a pouco o judaísmo do estado, e talvez até o transformem em mais um país muçulmano. Se esse receio tem fundamento ou não, difícil dizer neste momento. Mas, ao invés de ignorar o elefante na sala e manter os palestinos contidos em Gaza e na Cisjordânia só para preservar o “jewish way of life”, seria melhor começar a trabalhar com algumas alternativas, como as indenizações que eu já mencionei, ou até mesmo tentar chegar a um acordo no tocante a que leis deveriam mudar para que os palestinos se sentissem representados pelo governo no caso de um eventual retorno.

          Talvez fosse interessante condicionar esse retorno dos palestinos a um retorno (ou indenizações) dos judeus aos países árabes de onde foram expulsos. Aí veríamos o quanto a Liga Árabe realmente apóia a causa palestina (“put yor money where your mouth is”).

          Quanto a quem pode ser considerado um refugiado palestino, sempre haverá polêmica, assim como provavelmente há judeus que se afirmaram vítimas do holocausto e exigiram indenizações, mas que em realidade fugiram da Europa antes, ou estavam em regiões longe do perigo real. E assim como provavelmente haveria judeus cujas famílias haviam emigrado dos países árabes antes das expulsões, mas que também tentariam pedir indenizações, no caso hipotético do parágrafo anterior.

          E quem somos nós para determinar quanto tempo a família da pessoa deve ter vivido na Palestina para que ela tenha direito de retorno? Se uma família árabe se mudou de Damasco para Haifa em 1945, só para ser expulsa de lá em 1947, eles têm menos direito de voltar do que uma família que estivesse lá há gerações?

          Quanto a Arafat, concordo que ele não deveria ser considerado um refugiado per se, já que seu pai era de Gaza e ele próprio estivesse no Cairo quando começou a guerra em 1947. No entanto, isso não invalida os milhões de refugiados palestinos genuínos. Fraudes existem em todos processos dessa natureza, mas não podem servir de pretexto para se desconsiderar os casos verdadeiros.

          1. Beto,
            ” Para começo de conversa, quais são as fronteiras de Israel? Gaza E Cisjordânia são território israelense? Voltar às fronteiras de 1967 tornaria o Estado de Israel inviável? E tornaria suas fronteiras inseguras? As fronteiras de hoje (quaisquer que sejam) são seguras? “.
            Apesar de você desconhecer Gaza está nas mãos do hamas (totalmente) há uns cinco, seis anos. Eu não concordo que Gaza, nem ninguém, seja território israelense. Minto, acho que desconhecias o fato.
            ” Se você menciona a diminuição de ataques terroristas vindos da Cisjordânia, se refere aos últimos anos. Então, mesmo com a ocupação da Cisjordânia, as fronteiras não eram seguras”.
            A diminuição dos ataques deve-se à cerca de segurança construída. A Jordânia ficou 19 anos com domínio total da Cisjordânia. A não criação de um Estado Palestino naquele território (à época) foi de inteira responsabilidade, ou irresponsabilidade, do egípcio Arafat.
            ” E o Golan? “.
            Israel tentou há alguns anos trocar o Golan por um acordo de paz e seu reconhecimento pela Síria ( como já tinha com a Jordânia e o Egito) . Assad pai negou-se a este acordo e o Golan continuou em poder de Israel. Graças a esta negativa, Israel, hoje, não corre um perigo maior com as repercussões da carnificina síria em relação à sua segurança territorial.

            Por acaso consideras Israel uma teocracia e não um Estado laico pelo simples fato de ser um Estado judeu ? Seria como um Irã ou uma Arábia Saudita ? E o fato de ser um Estado judeu, te incomodas mais do que termos dezenas de países essencialmente islâmicos ?
            “Jewish way of life” ? Em que sentido a maioria dos israelenses ( majoritariamente não religiosos) se enquadram neste seu conceito ?

          2. Luiz, você ainda não respondeu quais são as fronteiras de Israel. Você se apegou a minha menção a Gaza, mas no meu comentário anterior eu memso disse que “pelo jeito você concorda que Gaza não é território israelense”. Eu estou plenamente ciente de que Israel se retirou de Gaza. E quanto à Cisjordânia? É território israelense ou não?

            Você diz que a diminuição de ataques se deve à cerca construída. Então quer dizer que a fronteira era insegura mesmo após a conquista da Cisjordânia em 1967, já que a cerca foi construída recentemente. Portanto, retirar os colonos e os militares e entregar a Cisjordânia para os palestinos não irá tornar as fronteiras totalmente inseguras nem tornará inviável o Estado de Israel, como você disse no começo dessa nossa conversa.

            Quanto à não criação de um estado palestino no período entre 1948 e 1967, não se pode dizer que foi de inteira responsabilidade de Arafat. Gaza era do Egito, a Cisjordânia da Jordânia, e a nenhum dos dois interessou dar os territórios aos palestinos para que fundassem um país. A Jordânia, inclusive, teve sérios atritos com os palestinos, com direito a massacre e tudo mais. Quanto aos próprios palestinos, que você personifica na figura do “egípcio Arafat”, por que não tentaram fundar um país nessa época? Provavelmente, porque não se conformavam com a idéia de ter que se contentar com uma pequena fração do território que era seu antes de 1947, ou porque acreditavam que poderiam “varrer os judeus para o mar” ou algo assim e recuperar toda a Palestina. No entanto, o fato de que um estado palestino não foi criado entre 1948 e 1967 não implica em que não se possa criar um estado palestino agora, certo?

            Quanto ao Golan, você também ainda não me respondeu – é território israelense ou não? As constantes ofertas e recusas entre Israel e Síria acerca do Golan se devem, principalmente, a um pequeno trecho de terra conquistado pela Síria em 1948 e mantido até 1967, que daria acesso sírio ao Kineret (o Mar da Galiléia), principal fonte de água doce de Israel. Israel sempre ofereceu à Síria retornar às fronteiras de 1947, mantendo esse trecho e portanto o total domínio do Kineret, e a Síria sempre exigiu o retorno às fronteiras pré-1967, ou seja, com esse pequeno trecho sob controle sírio e portanto acesso sírio ao Kineret. Esse é outro ponto em que eu não enxergo uma solução.

            Para terminar, respondo seu questionamento acerca de minhas considerações sobre o caráter judaico de Israel. Israel não chega a ser uma teocracia como é o Irã, e está bem longe de ser uma monarquia como a Arábia Saudita. Mas não se pode dizer que é um país exatamente laico, já que a interferência religiosa na legislação gera uma mistura entre estado e religião. Mas não falo do caráter judaico apenas sob o ponto de vista religioso, mas também étnico e cultural. Não me incomodo mais com isso do que com o fato de haver vários países muçulmanos ao redor, mas a idéia de um estado judeu me incomoda por implicar na possibilidade da exclusão dos não-judeus, ou na diferenciação entre as etnias. Israel enfrenta várias dicotomias, vários tipos de preconceito, alguns mais visíveis que outros. O fato é que o país foi fundado por e pensado para um bando de galitzianers e yekke potzes, e quem não é nenhum dos dois corre o risco de ser marginalizado de uma forma ou de outra.

            O que eu quis dizer com “jewish way of life” é uma série de coisas, desde o hebraico como língua oficial, a menorá e a maguen-david como símbolos nacionais, os feriados oficiais do calendário judaico, até leis que controlam a importação e produção de carne não-kasher, que regem o que abre ou não no shabat, que impõem a kashrut nas bases militares, hospitais e escolas públicas. Eu no fundo gosto disso tudo, pois é o que faz de Israel um país diferente dos outros, mas não acho que isso justifique o transtorno causado aos palestinos. E talvez seja a hora de Israel deixar de ser um país diferente e ser um país como os outros, um país para todos os seus cidadãos independente de etnia, crença ou o que quer que seja.

    2. ei, agora os sauditas tem armas atomicas do seu lado, melhor anda que o Irã, hein hahaha

      Disso Israel não fala, né? Bem quietinhos, comprados.

  10. Israel pode arrumar a desculpa e pretexto que quiser pra manter o status quo mas NUNCA acusar os Árabes de não desejarem e buscarem a paz dentro do direito e leis internacionais.
    Se Israel acha que está acima das leis internacionais e que as maiores potências do mundo estão errados também em relação ao Irã,paciência e bola pra frente que o jogo é de campeonato.

    1. Realmente, você tem razão. Os governos árabes querem a paz e a buscam de forma incessante, inclusive junto a seus amados primos israelenses a quem desejam prosperidade e vida longa. Almejam como ninguém a liberdade e os direitos individuais dos povos que governam e todos os países da região são exemplos disso e só não vê quem é cego. São extremados adeptos da tolerância religiosa e política e respeitam como ninguém suas minorias internas, as mulheres, os gays, etc. Dessa forma, conclui-se que o Estado Hebreu erra flagrantemente ao insistir em manter a descabida cautela em ralação ao ramo de oliveira e à mão amiga estendidos pelos Palestinos do pacífico Hamas e pelos irmãos libaneses do Hizbollah. Por que construir os odiosos muros de separação e manter insistentemente um arsenal atômico como poder de dissuasão quando nenhum, (nenhum mesmo!!!) perigo há no horizonte e nem depois dele?
      Realmente, Israel não tem nenhum pretexto e absolutamente nenhuma desculpa e está totalmente errado sempre. Inclusive em relação ao Irã, é claro.

      1. O conflito árabe-israelense tem sido um dos maiores obstáculos pra minar a ação do islamismo radical.Israel está devendo mostrar de que realmente deseja por fim a estes obstáculos.
        Penso que os israelenses deveriam levar muito a sério as percepções e reflexões feitas pelos ex-chefes do Shin Bet em The GateKeepers.Saudações.

  11. Eu acho que o acordo foi uma cartada certeira do Irã, que o aproxima do Ocidente e ameniza o embargo econômico, e ao mesmo tempo isola Israel no cenário internacional.

    Acho que nesse momento o Irã não é uma ameaça nuclear a Israel, mas é bem possível que eles estejam querendo “equilibrar o tabuleiro”. É um “segredo aberto” que Israel tem armamento nuclear – fato nem admitido nem tampouco negado por Israel (que aliás é um dos três países não-signatários do tratado de não proliferação). Uma outra potência nuclear na região tiraria de Israel esse monopólio.

    A IAEA precisa ficar de olho no Irã e fiscalizar atentamente seu programa nuclear, mas eles têm o direito a explorar energia nuclear para fins pacíficos. E esse acordo foi muito importante para jogar um balde de água fria nos beligerantes de plantão, que já estavam prontos para atacar o Irã e levar a região a um conflito de grandes proporções.

    Quanto ao que diz respeito a Israel, como eu já disse, acho que eles não correm perigo imediato, e saíram politicamente enfraquecidos no cenário internacional.

      1. Heitor,
        quem disse à quem que iria varre-lo do mapa ?
        “O Irã considera Israel um Estado ilegítimo e defende o seu desaparecimento”. Suas palavras.

        Você não é o primeiro, nem será o último na torcida da destruição do “Estado Sionista”.
        Claro que, nada contra aos judeus, que devem ser levados em conta como resultantes dos efeitos colaterais da destruição do “Estado Sionista”. Perfeito ?

        1. O Irã considera Israel um Estado ilegítimo e defende o seu desaparecimento. Mas iranianos nunca disseram que fariam algo para causar esse desaparecimento. Pode parecer preciosismo, mas a natureza do recado iraniano é importante de se entender.

          É muito fácil pegar uma frase e esquecer o contexto, mas quanto aos efeitos colaterais, não só judeus como árabes israelenses e cristãos sofreriam, no Iraque, também, foi só 1 milhão de “efeitos colaterais” por causa da invasão.

          Já disse Stalin: Uma morte é uma tragédia, milhões são estatística!

          E digo mais, nunca falei em destruir Israel, a hora que subir um governo humanista e anti colonização tudo vai mudar.

          Se a Alemanha sobreviveu ao nazismo, por que Israel não pode sobreviver ao sionismo?

          1. Heitor,
            Israel não irá sobreviver ao sionismo, mas sim dos que acreditam que podem destrui-lo.Já tentaram algumas vezes e não conseguiram.
            Os que apostam que um Irã nuclear vai concretizar os seus sonhos, não importando o número de vítimas que isto acarretaria, seria melhor se acautelarem em relação à um derramamento de sangue numa hecatombe que se sabe o início e não o fim.
            A primeira resposta deste Irã “atômico” vai ser uma Arábia Saudita e, quem sabe quem mais, terem também armamentos nucleares.
            Mas, só a possibilidade de verem Israel destruído, compensaria uma real futura possibilidade de uma convulsão total no OM e suas trágicas consequências.

          2. Não compreendo, como pode defender uma Arábia Saudita nuclear e um Irã desarmado?

            Não vê que eles são a verdadeira ameaça tanto para Israel quanto para nós muçulmanos!!!

  12. Caro Diogo, andei afastado do blog, mas comemorei o acordo com certeza.

    Foi um bom acordo, não tão bom quanto o que sugerimos em 2010, porém prevaleceu o bom senso de ambas as partes, felizmente os EUA e a Europa negociaram com o Irã mais moderado e deixaram os extremistas sionistas fora, fato que como dito, gerou piadas e baba de raiva em muitos aqui hahaha.

    Com as inspeções frequentes da AIEA ficará bem difícil o Irã conseguir armas atomicas, mas para sorte de nós muçulmanos temos o Paquistão e, quem diria, a Arábia Sautida com armas nucleares do lado de Israel.

    Agora podemos dormir tranquilos, afinal como eles já compraram os EUA e Israel, todos vão andar felizes de mão dada.

    Até acho que a mídia só fala do Irã para ocultar os planos sauditas. Na minha opinião o Oriente Médio agora vai se estabilizar, pois tanto árabes e Israel terão armas capes de mutuo exterminio.

    A paz das armas, já dizia Cesar.

  13. Olha gente, o acordo foi pela Paz, para a Paz, em Paz e sob a Paz. Israel, Arábia Saudita e Irã já não estão mais, individualmente, sob as mesmas jerarquias que estiveram no plano da 5a. dimensão – e pode vir quem venha, eu creio que a Paz já é. Então, se Ali, Maomé e Rowena colaborarem, a 3a. Guerra Mundial acaba de ser cancelada e não prorrogada. Agora, vamos todo mundo trabalhar pelos que têm fome, sede e não sabem nem ler e escrever as belezuríssimas escrituras sagradas ao invés de ficar regulando bunda, pinto, sovaco e genitália alheia? Cada um respeitando a idiossincrasia, os recursos naturais e o modo de viver do outro e todo mundo chega lá no Paraíso. Agora, tente fazer sua felicidade ou fé em cima de tristeza da família e fidelidade alheia e verá o que vai colher. “Em tempos de Paz, os belicosos atacam-se a si próprios.” “Em tempos de Paz, convém ao homem humildade e serenidade.” Letra sagrada é muito bonito quando se tem pão, paz e terra. Difícil é converter na porrada né? Já se vê que quem serve ao medo não serve ao Paraíso. Quem tem medo, não vai a lugar algum além de onde já deveria ter saído – a prisão de consciência. Então, plantemos amor ao próxima que a colheita será abundante, para todos: palestinos, israelenses, sírios, sauditas, sunitas, xiitas, paquistaneses, afegãos, curdos, turcos, libaneses, egipicios, bérberes, iranianos, e todos os outros conglomerados de cultura que se avolumam nessa terra, desde já, Médio Ocidental. Quero ver se essas fés vão passar a ser comportar ou vão escolher a lei da involução atômica, astral ou infernal – e quero viver para ver uma Jerusalem cosmopolita, um Irã energeticamente sustentável, uma Arábia sempre bela, uma Eurásia trabalhadora, um Egito laico e livre e uma Síria regenerada. A criatividade política, a boa-fé diplomática e a esperança internacional já estenderam suas mãos. Gratos!

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