Na língua árabe, o vocabulário do terror
A palavra que mais usei ontem, durante a aula de árabe, foi “tafjir“. “Explosão”, em português. Eu vinha lendo, no caminho para a casa do professor, sobre os atentados a bomba em Beirute. A palavra, nessas terras médio-orientais, faz parte do vocabulário básico.
Bom para os professores, que podem usar o termo para ensinar a conjugação de verbos no paradigma “f-a-a-l”, em que “tafjir” é derivado de “fajjara” (“explodir”), por sua vez uma extensão do significado básico de “fajara” (segundo meu dicionário, “dar saída à água” ou “viver em pecado“). Algumas outras formas incluem “tafajjara” (“amanhecer” ou “criar um defeito”) e “faajir” (homem mau).
Eu desconheço, mas deve haver um estudo que aponte o novo campo semântico dos empréstimos linguísticos do árabe. Imagino que, na era contemporânea, eles venham a ser relacionados ao terrorismo e ao conflito. É, de certa maneira, naquilo que se fala. Tenho a impressão de que um leitor regular não sabe que “rutuba” significa “umidade”, mas tem chances de saber, por outro lado, o que é “jihad” (“esforço”) e “Al-Qaeda” (“a base”).
Os linguistas podem me corrigir, mas, pelo que me lembro das aulas de filologia românica, os empréstimos árabes ao português durante a Idade Média vêm em sua maioria de campos ligados ao comércio e à agricultura. Assim, temos açúcar (“as-sukar”), arroz (“ar-ruz”), azeite (“az-zayt”) e alface (“al-has”). Talvez, no futuro, percebamos que os nossos tempos darão testemunho de outra relação entre o Ocidente e os países de língua árabe. Para uma língua que já foi veículo de cultura, origem de termos como “química”, “álgebra”, “algorismo” e “almanaque”, é uma constatação infeliz.
A imagem que ilustra este relato foi retirada do blog de um programador libanês que reclamava que sua busca por “irhaab” (terrorismo) dava por sugestão “árabe”. Ao que parece, houve uma campanha para alterar esse resultado. Não sei dizer se a informação procede, mas é fato que, quando tentei repetir a experiência, o Google não me sugeriu trocar “terrorismo” por “árabe”.
O mundo árabe tornou-se, para muitos, sinônimo de atraso cultural, violência religiosa e abuso de gênero. Mesmo o poeta sírio Adonis, que tive o prazer de entrevistar durante sua visita ao Rio (leia aqui), fala intelectualmente na extinção de uma “cultura árabe”. Tópico para outra discussão. Por ora, fica a sugestão de vocabulário para os estudantes de árabe, no campo semântico do terrorismo. Por ora, parece que serão palavras úteis nessa região. Ou seja, aos futuros arabistas, que saibam dizer “operação terrorista” (“amalia intihaaria”), “corpos” (“huthuth”), “martirizar-se” (“istishahada”) e “bombardeio” (“qasf”). E, é claro, e infelizmente, “terrorismo” (“al-irhaab”).
Em português temos açúcar (“as-sukar”), arroz (“ar-ruz”), azeite (“az-zayt”) e alface (“al-has”).
Alfaiate, algodão, etc.
Sugar / sucre, rice / riz, cotton, em inglês / francês.
Em português temos alcorão (al-quran), e não o anglicismo/galicismo corão.
Diogo desista.
Se o assunto em pauta não tiver nenhuma relação com Israel ou judeus os comentários serão poucos ou nenhum.
Um abraço, Luiz.
Que pena, Luiz. Esperava que este fosse o espaço para debates mais plurais. Um abraço, Diogo.
Diogo, eu também.
Inclusive com mais observações suas à respeito dos que não querem de jeito nenhum reconhecer o direito de Israel existir e coexistir.
Quando estivestes há pouco tempo em Gaza, acreditei que teríamos novidades à respeito do hamas e sua postura beligerante (sempre) em relação à Israel. Mas tirando algumas boas fotos, não houve nenhum outro desdobramento daquela visita.
Um abraço, Luiz.
Luiz, você leu a Folha ontem? Há uma grande reportagem sobre a carência em Gaza. http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/11/1375813-o-apagao-de-gaza.shtml
bela matéria. sempre procuro ler o que vc escreve e acho que falar de outro lugar que nao o anglocentrico tem muito a contribuir para todos.