O ministro, o rabino e o reflexo distorcido em Israel
Me mudei de apartamento, ontem. Desci algumas ruas e moro agora no centro de Jerusalém no prédio apelidado “Bait HaMaalot” (“casa das alturas”, em hebraico) por ter um dos primeiros elevadores da cidade. Tomei hoje o primeiro banho no meu novo chuveiro, e tive de controlar o registro com cuidado para a água não ficar nem muito quente, nem muito fria. Por algum motivo de encanamento, está difícil encontrar o meio termo.
O esforço me lembrou de dois recortes do jornal de ontem, guardados na minha carteira para me lembrar de escrever sobre um tema afim ao do chuveiro ora quente, ora frio –a manobra dos extremos políticos, em Israel, em meio aos atônitos moderados e aos observadores externos de má-vontade. O primeiro recorte é a declaração de um ministro da Autoridade Nacional Palestina. O segundo, a fala de de um influente rabino ultra-ortodoxo. Ambos têm publicamente opiniões que incomodam pelo extremismo –e, publicados nos jornais, sem contexto, podem produzir um retrato distorcido da sociedade israelense.
Do lado dos palestinos, me refiro a Mahmud Habbash, ministro palestino para Assuntos Religiosos. Ele afirmou, nesta semana, que o ex-líder palestino Yasser Arafat “morreu como um mártir”, assassinado por Israel. A afirmação está inserida no contexto das recentes declarações de que Arafat morreu envenenado por polônio, o que ainda se está por provar, assim como não há evidências que realmente apontem para uma ação israelense. Para Habbash, Arafat foi assassinado da mesma maneira que o profeta Maomé: morto pelos judeus. A afirmação, além de inflamatória de maneira desnecessária, não parece exatamente histórica. Já li algumas biografias de Maomé, e nunca me deparei com bons argumentos para a ideia de que o profeta foi envenenado por judeus.
Os extremistas israelenses foram representados na imprensa, ontem, pelo rabino influente Amnon Yitzhak, que –a exemplo das autoridades sauditas– fez declaração religiosa afirmando que as mulheres não podem dirigir. Para o rabino, o carro é o substituto da carruagem, “e nunca houve uma coisa como uma mulher dirigindo uma carruagem”. “Não é modesto para uma mulher ser uma motorista”, ele afirmou, marcando seu ponto final na questão.
Mostrei ambos os recortes a um colega jornalista, durante o almoço. Ele me alertou de que noticiar as declarações de Habbash e Yitzhak equivaleria a trazer extremos ao centro, distorcendo a imagem. Concordo com ele. Mas acredito, também, que contextualizar as falas do ministro e do rabino pode servir de alerta a todos nós quando estivermos discutindo a política médio-oriental e, em especial, a israelense. Já que, apesar de tanto Habbash quanto Yitzhak representarem setores existentes da sociedade, ambos não representam todo o espectro político, que inclui por aqui –como no Brasil, nos EUA, na Europa ou em qualquer lugar– um espectro que vai da esquerda à direita.
Aproveito para reeditar um diagrama que publiquei, em janeiro, na edição impressa da Folha. Pode ser útil aos leitores que ainda estiverem se habituando à fauna política israelense. Abro, assim, o debate neste relato para ouvir de vocês o que pensam do espectro político na região.
Voce tem um erro apontando os votadores de HABAIT HAYEHUDI.Este partido , que e considerado represantante dos Judeus religiosos SIONISTAS,
religiosos nacionais(hakipot hasrugot),e Judeus
Ortodoxos Sionistas. Fazer generalizacao dizendo que o partido dito e apoiado por todos os Judeus Ortodoxas(incluindo Ortodoxas
Anti Sionistas)nao e certo.Fora disso a classificassao de Israel Beitenu de ULTRA DIREITA nunca foi aceita por mim.Avigdor Liberman foi o primeiro lider Israelense a sugerir trocas the territorios com os Palestinos-cade o ultra direitismo aqui?
Caro Giogo Bercito,
Na matéria “O ministro, o rabino e o reflexo distorcido em Israel”, achei curioso o partido Meretz (Vigor, Energia em hebraico), Partido Socialista de Israel, estar ausente da matéria. A título de ilustração, seu candidato a prefeito em Te-Aviv, Nitzan Horowitz obteve 41% dos votos para prefeito nas últimas eleições municipais ocorridas muito recentemenete. Tem 6 cadeiras no Parlamento e em oito pesquisas de opinião dobra o número de cadeiras. Indo além, o Meretz foi o único partido nas últimos em Jerusalém a ter um candidato palestino. Tem ainda uma Presidente muito poderosa: Zehava Galon. Segue o discurso dela no J-Street, organização judaica libberal americana de primeiríssima importância. Diogo, eu acho que o Meretz merecia uma matéria de sua parte: uma combinação da tradição da luta pelos direitos civis (Shulamit Aloni); Mapam (ex-Partido dos Tratabalhadores de Israel); movimentos ecológicos, etc…Fica a sugestão.https://www.youtube.com/watch?v=2FVJ8pyG2Cg
Não é preciso recorrer a um rabino conservador para ver radicalismo e falsificações do uso da história. Isso você encontra no próprio discurso dentro do poder israelense, ao aprovar renovadas ondas de assentamentos na cirjordânia alegando sera aquela sua propriedade como consta nos livros sagrados. Isso é uma excelente representação da mistura de fanatismo e poder desmesurado.
Não é preciso recorrer a um rabino conservador para ver radicalismo e Em outras palavras, não existe moderação na política de Israel: o meio termo é extremista.
Israel é como um chuveiro onde a água desce sempre gelada como um defunto.
Quando voces brasileiros,chegarem a 50% do nivel de vida de Israel,a 10% do avanco academico e technologico,so ai um individuo como voce entendera quem e o pais vital,prospero,criativo e vibrante e que pais
e um pais morto vivo.
Em meio a um contexto tão complexo, você consegue imprimir uma luz, clareza, para quem é leigo nesse assunto. A ideia de iniciar com o chuveiro foi bem interessante, já que a temperatura da água depende da troca de calor, e a “temperatura” política depende da troca de entendimentos e, sobretudo, de tolerância! bjo
Falta ao povo Israelense perguntar-se: “Como podemos fazer diferença onde nós estamos?” Os Ecos da primeira e segunda guerra foram esquecidos…. Uma nação surgiu…. Democracia… novas gerações….. existe unidade? Creio que nunca haverá….. o ser humano é o mesmo há milênios em todo lugar…..
Na minha senda em entender a sociedade israelense,Israel parece se enquadrar no que o sociólogo judeu Sammy Smooha chamou de democracia étnica que possui como uma de suas caracterísiticas certas restrições para a minoria étnica-religiosa,diferentemente da democracia liberal que não se definem pela sua maioria étnica-religiosa.Em princípio,Israel desejar ser reconhecida como estado judeu vejo como uma manifestação normal,o problema é quando uma comunidade usa de seu poder para forçar um sistema de leis discriminatório.
Com relação a morte de Arafat cito algumas declarações que fazem pensar:
Cerca de um ano antes da morte de Arafat, o vice-ministro de Israel do governo do general Sharon, Ehud Olmert, saiu de reunião de gabinete (precisamente no dia 11 de setembro de 2003) e declarou: “A questão é: como vamos remover Arafat. A expulsão é uma das opções e a morte é também uma das possibilidades”.
Um mês antes de sua transferência em fase terminal, o então chefe de estado maior de Israel, Shaul Mofaz reafirma posição já expressa pelo governo de Ariel Sharon: “O Estado de Israel encontrará a forma e o momento certo para perfazer a remoção de Yasser Arafat da região”.
É o modus operandi característico em ação.
O rabino Amnon Itzhak foi candidato a knesset
cabecando um partido fundado por ele.
Ele recebeu 0 mandados.Sendo assim ,citar
a este rabino que nao tem nenhuma influencia
politica,como algum ponto de analise a sociedade Israelense,me parece mal intencionado.Muita gente,no mundo inteiro,diz um monte de besteira e nao recebe citacao no jornal.
Ilank, talvez você não tenha lido o relato inteiro. A história é exatamente sobre extremistas citados em jornais. De maneira que não entendo sua crítica. Mas obrigado pela visita.
Arafat ficou semanas internado se definhando num hospital francês. Centenas de exames foram feitos para concluírem algum diagnóstico de sua doença. Entre estes exames, certamente, substâncias tóxicas e radioativas foram pesquisadas. O mistério que envolveu o atestado de óbito, o suspense da sua não divulgação pela OLP, mais as suspeitas de AIDS ( de fácil diagnóstico ), foram os temas principais levantados à época de sua morte. Anos depois aparece com estardalhaço a suspeita de assassinato por substância radioativa de improbabilíssima detecção.
À quem interessaria “desenterrar” esta novela de quinta categoria ?
Porque os mesmos que apressadamente enterraram o passado corrupto de Arafat não quiseram saber com a mesma presteza, da sua real “causa mortis” anos atrás ??
Arafat, o egípcio, viveu nababescamente como farsante na defesa dos palestinos. Amealhou uma fortuna da corrupção que espoliou o povo palestino. Sua morte e seus desdobramentos condizem com a falsidade que permearam sua carreira de “líder” palestino.
Já a declaração do Ministro Palestino, Mahmud Habbash, condiz com antissemitismo endêmico que assola o universo muçulmano, que, credita aos judeus todos os males do mundo e a responsabilidade maior de suas próprias mazelas.
Não passa de mais uma das muitas frases que se veem diariamente na mídia, nas mesquitas e nos bancos escolares.
Nada de novo de tão corriqueiro.
A morte de Arafat já na época levantou suspeita dos palestinos de um possível envenenamento.Os médicos não conseguiram descobrir o veneno, além de que os seus assassinos lhe inocularam igualmente o retrovírus da sida tornando indecifráveis todos os exames. Só muito mais tarde,quando da captura pelo Hamas de documentos nos arquivos pessoais do ministro Mohamed Dahlan, foi que as provas do complô foram reunidas. O assassinato foi orquestrado por Israel e pelos Estados-Unidos, mas realizado por Palestinianos. Os Colaboradores que conspiraram com o Ocupante para o matar vão apoderam-se do poder sem demora.
P.S.:Este é um trecho extraído do anexo da obra de Isabel Pisano ” Yasser Arafat,na intimidade. A Paixão pela Palestina”.
Espero que isso possa ajudá-lo a responder algumas de suas questões.
Moisés, sou geneticista e preciso esclarecer pontos do seu comentário. Primeiro, o HIV (vírus que causa a AIDS) leva muitos anos para causar diminuição cronica de células de defesa do corpo que levam a diversas doenças oportunistas e também a canceres diversos (AIDS). Se tivessem inoculado o vírus HIV nele, na época em que adoeceu, no máximo teria um teste sorológico positivo após uns 2 a 6 meses da inoculação e poucos sintomas adjacentes. Outro ponto, o vírus HIV é muito sensível ao ambiente, então alguem teria que ter colocado sangue fresco contaminado (menos de 15 minutos no ambiente) em contato com um corte profundo ou com mucosas ou via intravenosa (injeção) no Arafat.
Relações sexuais desprotegidas, tranfusões de sangue (na época) uso de drogas injetáves e claro, acidentes com material contaminado (profissionais de saúde ou militares em combate que tenham contato com sangue) são os métodos mais eficazes para a contaminação do vírus HIV.
Acho muito perigoso as acusações mútuas sem embasamento técnico-científico algum, manipulando a ignorancia alheia e inflamando algo já tão explosivo. Enfim, mesmo que Arafat tivesse HIV, seja lá qual tenha sido o motivo da infecção, isso não impediria, de forma alguma uma análise por cromatografia (que identifica quantididades infimas de materias específcos) e que não sofreria influencia alguma de uma doença imunológica (AIDS), pois são métodos completamente distintos. Ou seja, se havia a suspeita de envenenamento na época, nada dentro do ambito científico impediria estas análises a não ser os interesses dos envolvidos.
Maria Helena,obrigado pela explicação mas a suspeita é que o envenenamento tenha sido feito com material radioativo e não HIV e concordo que assim como houve interesses em abafar o caso na época Há interesses hoje em botar fogo na lenha.
Tentar comparar tal séria acusação de assassinato a uma bravata sexista é ridículo. Sob qualquer aspecto.
Por quê?
A impressão é de que muçulmanos e seus ferrenhos defensores (da violência e das matanças inclusive) não se sentem muito à vontade quando o tema homossexualismo vem à tona, mesmo que, remotamente.
Como se não houvessem homossexuais entre islâmicos. E que, o fato de haverem, os tornariam menos”homens”.
Para estes homofóbicos a perspectiva de Arafat ter sido contaminado pela AIDS através de relações com alguns de sua “entourage” é simplesmente abominável e indigerível.
Primeiro, porque macularia a imagem do egípcio que virou “líder” palestino. Segundo, não seria de bom tom que a “macheza” árabe ficasse exposta ao “ridículo” do homossexualismo do “intrépido” Arafat. Terceiro, a homofobia intrínseca dos muçulmanos é inegociável.
Diogo,
Vi o seu esquema sobre a política israelense. Não há partidos ou representação à esquerda? Eles desapareceram?